"Como é vão sentar-se e escrever se você não se levantou para viver!
(Henry D. Thoreau)"


sábado, 9 de outubro de 2010

Há aquela velha e boa fábula que conta a história do menino que sempre alarmava um falso ataque do lobo às brancas indefesas ovelhas. O Pastor, prestativo e atento, sempre acreditava nos falsos avisos do garoto. Quase sempre, um dia o Pastor se cansou. Justamente no dia em que o ataque era verdadeiro. O menino desesperado gritava pela ajuda do Pastor enquanto as ovelhas eram mortas.
Outra versão da fábula, mas com o mesmo efeito moralizante, é a do beija-flor que sempre dava enganosos alertas de incêndio na floresta. A inconsequente ave divertia-se ao ver toda a fauna mobilizar-se a fim apagar o que nunca existiu. Até que um certo dia... todos sabemos o que aconteceu.


Transpondo a fábula à realidade, apesar de não ser o garoto ou o beija-flor, por muito tempo emiti falsos sinais. Distribuí indícios e promessas de algo grandioso. Expressei, amiúde, (com uma dissimulação de fazer inveja a Capitu) sentimentos de bem-querer. Manifestei e fiz transparecer um amor sem começo nem fim.

Tal como o beija-flor ou o garoto, talvez tenha agido com o intuito de suprimir a pungente pequenez a que estava fadado. Fomos, eu e meus personagens, por muito tempo o centro das atenções. Nos divertíamos às custas da credulidade alheia. Crédulos que, por inocência ou ignorância, sempre guardavam na memória lembranças daquilo que, de fato, nunca subsitiu. Exceto em sonhos.


Hoje, por irônia do destino, minha história vai terminando como a de meus caros companheiros, o garoto e o beija-flor. Somos iguais em descrédito e desgraça. Hodiernamente, por mais sinceras e eloquentes sejam nossas palavras, ninguém mais dá ouvidos a elas. Eu não matei nenhuma ovelha. Quero, assim como o Pastor, cuidar do meu rebanho de um só exemplar. O que, no entanto e infelizmente, é impossível. Transformei-me no Lobo da história.

Eu tampouco quero apagar essa chama que sempre fantasiei ter, mas que só agora a conheço verdadeiramente. [Almejos sem meios. (Sonhos vãos). Não voltam.] O beija-flor que sempre fui, apesar de ter experimentado tantas rosas, apaixonou-se por uma flor intocável. Delicada demais para um lobo; grande demais para um pequeno e dissimulado bejia-flor.


E o final dessa história... eu quero mudá-lo.


"Nem todas as flores têm a mesma sorte: umas nascem para enfeitar a vida; outras, a morte."
(Dherry Euqatara)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Isso é muita sabedoria

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer.

(Clarice Lispector)

Não costumo postar textos de terceiros. Gostei muito, entretanto, das sábias palavras de grande e imortal Clarice Lispector.
Certas vezes na vida, queremos tanto algo que ficamos cegos, alheios à realidade.
Fazemos o possível e o impossível na tentativa de realizar nossos sonhos, alcançar os almejados objetivos. É fato que ninguém gosta de perder. Todavia, para que haja um vencedor deveras há de existir um perdedor. Às vezes querer muito, batalhar demais, sofrer, renunciar não é o bastante. Há elementos que estão fora de nosso alcance, por mais fortes que sejamos ficamos impotentes diante certas questões - e amor é a principal delas.

Não há fórmulas para o amor. Como já citado, amor pode simplesmente nascer ou não. Que bom seria se amássemos todos que nos amam e que todos que amamos nos amassem também. Mas a vida não é assim. Amor não se escolhe, amor se vive. Muitas pessoas são infelizes porque vivem buscando um grande amor. Quanta perda de tempo, isso é vida jogada fora. É necessário levar alguns tropeços para entender o que Clarice quis dizer com aquelas palavras de pura sabedoria. No entanto, há pessoas que passam a vida sem compreender; há pessoas que compreendem e passam a vida se enganando; há pessoas que não amam a si próprio e insistem em querer encontrar um grande amor. Isso causa pena.

A felicidade surge para aqueles que choram. Lutar por aquilo que ama é fundamental; saber perder é nobre. Aceitar a derrota e partir para outra batalha é, muitas vezes, a única opção. Não gosto de ver pessoas "sofrendo" por amor, choramingando pelos cantos porque perdeu alguém que julgava importante. Lágrimas não fazem o tempo voltar. Relembrar não é viver. Mendigar sentimentos não trará amor. Flores não trazem amor. Serenatas não trazem amor. Cartas não trazem amor. Várias horas de conversa não trazem amor. Promessas de mudança não trazem amor. O amor surge espontâneamente do nada e também vai embora do nada. Tentar prendê-lo é a melhor maneira de ser infeliz.

Como disse Vinícius de Moraes: "Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure". O amor é um estado de espírito passageiro, vai e vem como a felicidade e a tristeza. Vive disputando espaço com a solidão. O amor não tem casa. O amor é cigano. O maior erro humano é tentar domesticar o amor, seqüestrá-lo, monopolizar um sentimento universal... Sim, o amor é gostoso, traz sensações indescritíveis e faz a vida valer a pena. Mas repito: é algo volátil e passageiro. O incerto é querer ressuscitar o passado. O triste é renunciar o presente e viver de ilusões pregressas; idealizar um futuro que todos sabem ser impossível sua concretização é auto-engano. Machado de Assis, nosso grande mestre, já nos alertou: "Sonharás uns amores de romance, quase impossíveis? Digo-lhe que faz mal, que é melhor, muito melhor, contentar-se com a realidade; se ela não é brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir."

Ninguém sonha em terminar seus dias velho, doente e solitário. Contudo, renunciar as alegrias da vida, tentar constantemente conquistar um alguém e viver de caridade sentimental não é a melhor maneira de evitar a solidão. (A solidão, carma (karma) do contemporanêidade, monstro de sete cabeças para muitas pessoas). Indigna-me o fato de as pessoas não conseguirem, muitas vezes, conviver exclusivamente consigo mesmas. Sabe, não entendo como alguém que não consegue ficar sozinho viver buscando um "grande amor". Para mim, é irracional. Se você não capaz de estar consigo mesmo como espera que haja alguém no mundo que consiga?!... Entende? É como se o fardo de existir fosse pesado demais e juntando duas cargas o "peso existencial" ficasse menor. Não faz sentido...

Costumo observar algumas pessoas que trocam de namorado assim como trocam de roupa. Vejo, além da escancarada futilidade, o enorme vazio que carregam. Fico inquieto com o fato de essas pessoas passarem boa parte da vida se adequando a moldes a fim de serem aceitas, bem quistas, "amadas". Muitas vezes, torturam-se em dietas desumanas, permutam forçadamente de opinião, vivem em constantes transformações, perdem a essência do que verdadeiramente são com o intuito de agradar às pessoas que estão à sua volta. Isso é lastimável, contudo não raro. Porém, é errado.
Cabe aqui um texto que certa vez li:

"O velho Mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d'água e bebesse.
-'Qual é o gosto?' - perguntou o Mestre.
-'Ruim' - disse o aprendiz.
O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago.
Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago. Então o velho disse:
-'Beba um pouco dessa água'. Enquanto a água escorria do queixo do jovem o Mestre perguntou:
-'Qual é o gosto?' -'Bom!' disse o rapaz.
-'Você sente o gosto do sal?' perguntou o Mestre.
-'Não', disse o jovem.
O Mestre então, sentou ao lado do jovem, pegou em suas mãos e disse:
-'A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido de tudo o que está a sua volta.
É dar mais valor ao que você tem do que ao que você perdeu. Em outras palavras:

É deixar de ser copo, para tornar-se um Lago." (Desconheço a autoria)


Essa passagem ilustra bem o que quero dizer. Não se deve resumir a vida (ou a felicidade) a um amor romântico. A vida é muito além e não ser "desperdiçada" em vão. Voltando às linhas iniciais do texto, "Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer."
Antes sair por aí procurando (em vão) um "grande amor", ame-se mais que tudo. Não gosto de regras, contudo há paradigmas que são imutáveis. Eis um deles: Realize-se primeiro para só depois pensar em ser feliz a dois.

Minhas palavras não tem validade científica, são de base puramente empírica, mas é o que me faz seguir sempre em frente. Perdi muito tempo na vida buscando o amor, cheguei a acreditar que certa vez havia perdido um grande amor. Hoje, todavia, após anos e depois de muita vivência, tenho a consciência de tudo que o acima foi dito. Se a vida for um jogo, e você tiver que apostar em uma só jogada, aposte naquela em que a vitória dependerá unica e exclusivamente de você mesmo. Não é prudente contar com a sorte ou outras variáveis.

O ser humano é composto por sentimentos, mas também de razão. E entre esta e aquela, prefira a segunda. Contudo, deixo claro: o amor é fundamental. Deixe por conta do destino, mais cedo ou mais tarde o amor esbarra em você, quando você menos esperar estará vivendo, sim, um grande amor. Entretanto, não perca tempo perseguindo-o. Dedique-se a objetivos concretos; deixe os sonhos românticos por conta do acaso. Afinal, "Não precisar correr tanto; o que tiver de ser seu às mãos lhe há de vir" (M. de A.)

Fim.



Nota: Esse foi, por um bom tempo, meu último texto. Tenho, agora, objetivos a serem alcançados e que necessitam de total dedicação. Obrigado a todos os possíveis visitantes.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Vim, Vi e Venci!


Eu sempre sonhei como seria o dia em que eu passasse no vestibular. Aguardei tanto por aquele momento tão almejado, fiz tantos planos.

Não foi fácil! Sempre que me sentia mal, fechava os olhos, lembrava da minha família, arrancava forças onde não mais existia, buscava consolo em Deus, pois eu sabia que uma hora, mais cedo ou mais tarde, chegaria a minha vez. Bastava eu não desistir. Aqueles que me conhecem sabem um pouco da minha luta. No entanto, só eu sei o que passei para chegar até aqui. Perdi a conta de quantas vezes quebrei a cara, quantos "quase", quantos "não foi dessa vez" tive que engolir. O peso dos sucessivos fracassos minava meu ânimo. Mas eu não podia parar, havia chegado muito longe para simplesmente desistir. Por trás do meu esforço, havia também uma série de pessoas que confiavam na minha capacidade. Havia pessoas maravilhosas que renunciaram muito por minha causa. Seria uma covardia imensa ser derrotado pelo cansaço. Eu havia planejado alcançar um objetivo e não iria parar até conseguir. Foram mais de três anos lutando. Três anos de renuncia, dedicação e sofrimento. Todavia, tudo tem um lado bom na vida, nesse tempo amadureci bastante e conheci pessoas incríveis, amigos que levarei por toda a vida. Mas confesso que não foi fácil ver todo mundo indo embora, entrando na faculdade, e eu ainda no cursinho. Aprendi, contudo, que não se deve ficar comparando a própria vida à dos outros. Cada um tem sua própria história, cada lombo sabe o peso que carrega. Como diria o poeta: "cada um sabe a dor e delícia de ser o que é".


[(Eu nunca havia desejado tanto algo na vida. MEDICINA, o ser médico, o poder salvar vidas, trazer vidas ao mundo...) Como eu estou com vontade de chegar logo em casa, dar um abraço apertado no meu papai já velhinho e dizer: "Eu passei, papai!". Quando eu tinha 8 anos, no dia dos Pais, dei uma camisa ao meu pai com os dizeres: "Papai, estou seguindo seus passos." Mais de 10 anos se passaram. E de fato segui, apesar de alguns desvios, um dia eu serei como meu pai, um dia serei médico.
Minha mãe não é médica, minha mãe é uma santa. Sem ela eu não seria nada. O amor de mãe é o elemento humano que mais se aproxima de Deus.]


Fiquei um bom tempo da vida planejando o que faria quando esse dia chegasse. E, graças a Deus, esse dia chegou. Não fiz nada do planejado. Não gritei, não quebrei parte do meu colégio, não pulei no Vaca Brava, não entrei em coma alcoólico. Ora! Eu não lutei tanto para justamente agora, quando atingi meu objetivo, ficar embriagado. Isso eu posso fazer depois. Nesse momento tão meu eu tinha a obrigação de sentir, de vivê-lo em sã consciência. E é maravilhoso a sensação de dever cumprido. Hoje eu posso olhar para trás e dizer com todas as palavras que valeu a pena. Como uma grande pessoa me disse um dia: "Tudo o que vale a pena ter, vale a pena esperar."


Bom, sei que palavras não vão expressar o que agora sinto. Mesmo assim arrisco um conselho já tão consagrado( e até piegas): Não desista do seu sonho! Eu sempre digo, vestibular é uma fila. Se você entrar nela e não sair, uma hora chegará sua vez.


Encerro com as sábias palavras do velho bruxo:
"Não precisa correr tanto; o que tiver de ser seu às mãos lhe há de vir."

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Mais uma história de amor

Era uma vez, numa cidadezinha distante e pacata, havia um garoto chamado João. Ele era popular e insólito. João não era daquelas pessoas que gostavam de andar por caminhos previamente determinados, ele trilhou conforme suas vontades cada passo que deu.

Na infância era destacadamente o aluno número um. João não era fisicamente forte, era magrelo, carregava cabelos pretos e lisos soltos ao vento, assim como sua sorte. Sua esperteza era ímpar, era sempre o primeiro a entender as piadas dos adultos. Todos o achavam "precoce".

E talvez precoce seja a palavra que melhor defina João. Nosso protagonista deu seu primeiro beijo por volta dos 10 anos de idade, na escadaria da igreja. Foi no dia em que havia saído de casa para ir à novena levar um frango assado, feito por sua mãe e embrulhado num papel brilhante e barulhento, que seria leiloado durante a festa. Esse foi o primeiro encontro de João com o amor.

Ficara encantado com tal experiência. Chegou a ficar dias pensando e revivendo aquele momento antes de dormir e ao acordar. O ambiente não foi dos melhores, nem direito a uma música o casal teve. Apesar de João ter esquecido o nome da menina, ele sente ainda hoje o gosto puro daqueles lábios morenos sujos de batom, a textura da pele daquele rosto pueril e a fragrância doce do perfume de menina. João se lembra perfeitamente da fisionomia da guria de fala mansa, assim como lembra da surra que levou do namorado dela no dia seguinte.

João aprendera a lição mais importante de sua vida: tudo tem um preço. Apesar de não ser rico, ele sempre quis as coisas mais caras. Sempre apostou alto, era ousado de nascença. João tinha sorte, principalmente com mulheres. Na adolescência não sabe quantos amores teve; mas como já mencionado, ele era diferente. Não foi só mais um rapaz que hoje seria popularmente classificado como um "galinha". Não. Aquele garoto tinha algo de especial que encantava as meninas. Alguns dizem que era seu silêncio, sua aparente seriedade. Talvez seus enigmas fossem convidativos a um jogo de descobertas. João sempre soube jogar muito bem. O tempo foi passando e ele aos poucos foi ganhando experiência. Aperfeiçoando suas táticas de batalha, conhecendo novos territórios, ultrapassando limites inimagináveis. João não sabia o que era perder no amor. Ele amou t-o-d-a-s suas amantes. Amou ao seu modo e à sua maneira, porém amou. O problema de João era que ele se apaixonava facilmente. Não era necessário a obra toda, uma parte sequer já era suficiente para fazer o coração joanino disparar. Apesar de míope, João era extremanente detalhista, uma vez se apaixonou pelas linhas da mão de uma mulher. Outra vez pelo sorriso. Olhos, nuca, seios, cabelos, nariz... tudo o encantava e o jogo começava: ele se aproximava, estudava a adversária, armava olhares, atacava com elogios. Normalmente isso bastava, mas quando não era o suficiente, João pedia reforços de músicas, cartas, promessas afáveis. Mas o silêncio era sua maior arma, quando estava quase derrotado, ficava calado num silêncio que ecoava. Era justamente nesse ponto que o jogo virava, a adversária de João estranhava a atitude, ficava confusa e ingenuamente baixava a guarda. Era o erro fatal. Nesse momento o guerreiro já conhecedor de toda a mulher, adentrava o pobre coração, descobria seus desejos e vontades... A batalha estava ganha, João, entretanto, antes de partir, sempre deixava uma semente de saudade, só depois partia em busca de novas conquistas. Mas ele sabia o preço da vitória. No fundo, ele deseja perder. Cada vez que saia vitorioso, crescia mais seu vazio, extendia a busca por mais e mais. Era uma droga poderoza e João um pobre viciado. Amou tantas, roubou de cada uma um pedaço daqueles pobres corações. João sempre quis preencher o vazio que o corroia internamente. Aos olhos alheios, ele nunca amou ninguém, mas ele sabe que amou todas porque não foi capaz de amar somente uma.

E a história de João continua depois. Agora o narrador precisa dormir, amanhã tem aula.

sábado, 26 de junho de 2010

Vai entender a vida...

Quando João mais precisava, Maria o abandonou!
Ela foi companheira durante 99% do tempo. Faltando, no entanto, dois metros para a linha de chegada, ela o empurrou! Ele caiu, se machucou e perdeu...



... perdeu Maria, não a corrida!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Uma pena, ou pluma

(Com quase toda a sinceridade do mundo)

Sabe... às vezes é difícil encontrar um sentido para as coisas que acontecem, talvez seja porque estejamos intrinsecamente ligados a ela. No entanto, com o rolar das águas nos damos conta de que nem tudo que existe deve ser entendido; contudo, como dizia Fernando Pessoa: "Tudo vale à pena se a alma não é pequena!"

Engana-se quem diz que o fracasso é o pior dos sentimentos, não! Fracassar é ter a certeza de que não era a hora certa; é ter consciência de que resignação de hoje representará, uma dia, o sucesso. Do fracassar se tem o consolo de poder erguer a cabeça, sorrir (ou chorar) e dizer: "eu perdi, mas eu tentei". E isso já é muito.

Cada oportunidade, cada nova experiência deve ser intensa e plenamente aproveitada, não se pode deixar que contratempos ofusquem a limpidez de um objetivo maior.

Saber o que é certo é muito fácil, fazer o certo é muito difícil. Muitas vezes somos desviados do nosso caminho, somos, de certo modo, obrigados a esquecer princípios, tomar atitudes embaraçosas, nadar contra a maré, lutar por algo que não trará nada, simplesmente nada. Tempo perdido? Claro que não, tudo vale à pena se a alma não é pequena.

Hoje, aqui; amanhã, lá. A roda-gigante da vida não pára. Saber quando, como, onde e o por quê é impossível, mas isso não deve ser enxergado como um obstáculo, e sim como um desafio. Disse e repito, nem tudo é para ser entendido. Há certas coisas que não admitem explicação, certas escolhas contrariam todos os preceitos de racionalidade.

As adversidades surgirão em toda a vida, sem elas não haveria graça. As escolhas, conseqüentemente, também. O sucesso é o somatório destas, multiplicado pela coragem e divido pela covardia.


A melhor hora é agora. "A águia não caça moscas". Um dia a gente chega lá, vamos ser relembrados com um leve ar de inveja e uma pontinha de arrependimento. Um dia vamos olhar para trás e não dizer, mas sim pensar: "Eu nunca perdi, foram eles quem deixaram de ganhar!"

... e quando esse dia chegar:
Deitem, então, em suas plumas e lastimem suas penas!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Uma vencedora...




Diferentemente da maioria das vezes, hoje, essas palavras gastas possuem um precedente. Acabo de ver uma foto. Não uma foto qualquer, mas a de uma mulher linda, inteligente e batalhadora. Poderia, deveras, escrever páginas e páginas acerca da obra como um todo, um conjunto que, diga-se de passagem, é raríssimo. Cairia, contudo, no medíocre senso comum se dissese que beleza e conteúdo são características difícies de se encontrar aos pares.

O que despertou minha atenção, entretanto, foram seus olhos cuja cor não sei precisar. Sinceramente, não foram, de fato, os olhos, mas sim o brilho de um sonho que emana da alma. Percebi, ao observar bem a tal foto, uma pontinha de tristeza profunda, dissimulada por um belo sorriso e momentaneamente esquecida em função da companhia de amigos. Uma tristeza íntima, antiga e constante.[quase amiga...]

Apesar da discreta tristeza, há explicitamente calado um sonho que suplica por voz. Um projeto de vida que é diariamente construído, hora a hora alimentado. Uma causa nobre é o que dá forças a essa tão distinta mulher. Ela é decidida, persistente, dura na queda. Ela, incrivelmente, consegue ser ao mesmo tempo séria e engraçada. Onde chega é o centro das atenções, não só e simplesmente devido à beleza; sobretudo destaca-se seu caráter, seu jeito de ser mulher. Seus discursos optativos são sinceros, os abraços são verdadeiros e as intenções sempre as melhores.

Ela, como todo ser humano, possui, todavia, momentos de incerteza. São nesses momentos que transparece aquela moça frágil, pueril, que acredita nas pessoas, que tem medo de baratas e cobras, que chora, que sofre, que carrega o mundo nas costas, aquela menina que um dia andava descalço e brincava de bonecas, que tinha o sonho de mudar o mundo.

Essa menina-mulher enfrentou "ritos de passagem" que a tornaram mais preparada para os desafios da vida. Tão preparada que, aos olhos dos desatentos, aparenta ser quase que auto-suficiente. Embora não seja. Ninguém é. Ela tem um sonho e quer por tudo realizá-lo. Para tanto, elegeu prioridades na vida. Renuncia muito em prol de um objetivo maior. Essa determinação é o que encanta todos que tem a sorte de estar ao seu lado.

Creio que a vida seja justa. Tenho a certeza de que ela está muito perto de chegar onde sonha.

(Eu sei que às vezes a espera indefinida, a incerteza, a inconcretude dos fatos são "pedras no caminho". No entanto, siga em frente. Pare, se preciso. Olhe para trás, reavalie as estratégias, mas continue seguindo. Não desista nunca. Seu potencial é incrível.)

Vá em frente e vença, minha guerreira!

"Não precisa correr tanto; o que tiver de ser seu às mãos lhe há de vir"

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Apaixone-se mais por você mesmo.


É interessante como certas datas mexem com o espiríto de muitas pessoas. Estamos a poucas horas do dia dos namorados e impressiona-me a quantidade de namoros relâmpagos que surgem do nada. Não creio que o cupido resolveu fazer hora extra.

Meados de 12 de junho é um período no qual a difícil tarefa de conviver exclusivamente consigo mesmo torna-se humanamente insuportável! Há um senso comum velado que faz com que o simples fato de estar só torne-se cruelmente penoso. Nessa época, costuma-se recorrer várias vezes à agenda do celular. Aquela menina não tão "bonitinha" adquire um valor substancial. Aquele rapaz não tão "legal" torna-se uma potencial boa companhia. Há um consenso implícito de que vale tudo, exceto passar o dia dos namorados - sábado - sozinho assistindo ao Zorra Total.

O encoberto jogos de interesses mútuos e convenientes passa a fazer parte das conversas de msn, das trocas de torpedos e, claro, das ligações sem aparente segundas intenções. Costuma-se fazer uma espécie de ranking humano: "vou tentar fulano, se não der certo eu falo com ciclano, mas se ele já tiver compromisso, aí, eu ligo pro beltrano. Ele sempre foi afim de mim mesmo." É como se existisse, sem base material, um cardápio no qual as opções não são necessariamente satisfatórias, mas que servem como um eventual "tira gosto". É uma maneira prática, como diz o ditado, de matar dois coelhos com uma só cajadada: consegue-se uma eventual companhia para uma data "especial" e ao mesmo tempo dissimular a, para muitos, triste realidade da constante solidão.


O dia dos namorados é também, para alguns, uma data nostalgica. Lembranças dolorosas povoam constantemente o pensameto. Não são raros os sentimentos de arrependimento devido a atos equivocados, à escolhas erradas. O tão famoso "se" entra em cena. "Se eu não tivesse traído". "Se eu tivesse dado mais valor". "Se eu tivesse sido sincero". "Se eu tivesse arriscado, talvez..." Tenta-se de toda a maneira, mesmo que em vão, voltar atrás e consertar velhos erros. Talvez um sorriso a mais, um abraço sincero ou simplesmente um olhar verdadeiro poderia ter proporcionado um presente menos insuportável. Mas se aprende, da maneira mais difícil, que o pretérito é imutável, duro na queda. Estático.


Esta data representa, ainda, uma cruel constatação àqueles que acreditam sempre levar vantagem com números. É triste habitar em vários corações, mas ter o próprio vazio. É angustiante ver aquela placa de "doa-se um coração" enferrujada pelo tempo. Ninguém gosta de morar em áreas inseguras. Um dia o beija-flor se cansa e, por ironia do destino, apesar de ter conhecido tantas flores, morre solitário entre espinhos.


O dia dos namorados, de fato, outrossim é um momento de alegria na vida de alguns tão poucos. Comemora-se verdadeiramente o tão raro encontro de duas almas. É uma data que fortalece laços. Disperdiça-se demasiadamente juras que ambos sabem que são impossíveis de ser cumpridas, mas que - naquele momento - aquela aparente verdade é tudo que os ouvidos apaixonados suplicam. Os enamorados parecem ignorar a lei da física que diz que dois corpos não ocupam um mesmo lugar no espaço... amam-se eternamente na infinitude da duração do encontro.


O dia dos namorados não é uma data que se deve, necessariamente, ser contemplada a dois. No entanto, deve-se, obrigatoriamente, passar enamorado. Não acredito que seja válido enganar-se estando com alguém em função de uma data pré-definida pelo calendário. Esse estranho querer "ser normal", adequar-se forçadamente a moldes pré-estabelecidos é o que me faz refletir acerca das atuais relações humanas. Há muitas pessoas que estão tão cansadas de si mesmo, e já tão saturadas, que involuntariamente buscam a solução de seus problemas em terceiros. Creio que seja incerto tentar de todas as maneiras fugir de si mesmo. Talvez falte apaixonar-se por si próprio. Amar àquela imagem que se vê todo dia em frente ao espelho, independentemente de peso, cor, altura etc. É necessário valorizar um poquinho mais a essência e deixar para segundo plano a aparência.


Portanto, se você, caro ( e possível) leitor, não tem uma companhia para a noite dos namorados, não se desespere. Dê uma chance a única pessoa do mundo que pode fazer você feliz: você mesmo. Apaixone-se mais por você mesmo.

sábado, 5 de junho de 2010

Espelho Plano


UAU!, como o tempo voa! 05/06/2010. Praticamente meio ano se foi; tempo que jamais há de voltar. Se muito, raras lembranças hão de permanecer temporariamente. No entanto, (in)felizmente, o tempo tudo há de apagar, quase tudo (não é bom generalizar!).
Eu, um simples vivente dessa sociedade pós-moderna e pré-perdida, sigo meu simplório e talvez errante caminho.
Não quero, nem é a hora de julgar o que fiz. Está cedo, creio. Prefiro reviver os bons momentos e ludibriar os ruins; se tal fato consiste em uma fuga à realidade, perfeito! Meio caminho andado!
Sabe, às vezes corremos demais. A cultura pobre e medíocre que nos cerca impõe valores pré-estabelicidos, há uma plastificação do gostos, costumes, ritmos. Se for verdadeira a tão famosa máxima de René Descartes "Cogito, ergo sum (Penso, logo existo!) !", arriscaria que 90% das pessoas não existem.
A percepção de tempo e espaço, é, indubitavelmente, distinta entre as pessoas; todavia, há de se ter, no mínimo, um pouco de bom senso e "abrir os olhos", procurar diferenciar o que realmente desejamos do que querem que desejemos. Isso é parece simples, mas não é!
Essas palavras soltas, entretanto, são um juízo de valor meu, portanto, não representa uma verdade insofismável. Claro, posso estar errado. Todavia, no dado instante, creio que isso me basta.
Talvez seja este o texto mais sem nexo que já escrevi. Dizem que os textos são a imagem do estado de espírito do autor. Talvez tenham razão. Entretanto, lembremos que há muitos dissimulados por aí.
Falando em dissimulados, veio-me à mente essa arte! Sim, embora contra o senso comum (lástima fatídica), enxergo a dissimulação como uma das mais, digamos, belas artes. Quero deixar claro que refiro-me à dissimulações autênticas, natas, intrínsecas! É completamente diferente do simplório "fingir!". Quando falo em dissimulação refiro-me às pessoas que nascem com esse dom, essa dádiva. Afinal, quem disse que a verdade é sempre o melhor caminho? Quem há de ser sincero e justo por toda a vida? Não, caro amigo, não hemos de crer em tal tolice.
Hipocrisia basta a minha, poupo-me, por favor. A realidade é dura quando nua e crua. Pobre beócio o ser que crê em tudo que vê e ouve. Aprendi que a teoria é linda; a prática, nem tanto.
Voltando ao cerne textual, se é que tal ainda há, nesses 6 meses quase vividos aprendi uma coisa: "Somos vulneráveis!" Claro que quando emprego tal verbo (aprender) utilizo-me de um eufemismo. Saber que somos vulneráveis até uma criança sabe, no entanto, às vezes precisamos de provas irrefutáveis.
Grande mal do ser, o ceticismo. Talvez se o homem deixasse um pouco de lado a razão e acreditasse mais, as coisas seriam mais fáceis.
Acreditar em palavras, gestos, intuições, olhares, sentimentos. Quem há de crer no próximo quando o que se vê cotidianamente é um exemplar das páginas apocalípticas? Convenhamos, não é fácil.
Talvez por isso, na minha opinião, tantas pessoas sofrem à toa. Sendo ou pouco menos genérico, há quem não crê em si mesmo. Dificuldades, quedas, fraquezas sempre hão de haver. Claro, se não, não chamariam isso de desafio!
E digo, é a coisa mais gostosa que há na vida. Os desafios, ah, como os amo! Sem eles, não viveria; no muito, vegetaria. Falando em desafio, irei estudar - o que consiste outrossim em um enorme desafio. No entanto, tenho que lugar - por enquanto. Portanto, tenho outras batalhas para vencer, no mais.



segunda-feira, 31 de maio de 2010

Vita



(1989-2010)


É... quer queira quer não, a vida passa. Pessoas crescem. Pessoas nascem. Pessoas morrem.



Durante essa caminhada, há fatos que nos fazem parar e refletir.

Confrontar o passado e presente, passar um "pente fino" na vida. Colocar as cartas do jogo da vida na mesa, sabe...

Perguntar a si próprio sinceramente: "E aí, o que eu fiz até hoje da minha vida?"

Será que a pessoa que agora sou é aquela que sonhava quando tinha 9 anos de idade?

Será que ainda há aquela criança dentro de mim? Será que posso olhar para trás e me orgulhar da pessoa que fui até hoje? Quantas vitórias, verdadeiramente, eu consegui? Quantos amigos podem contar comigo? Aliás, quantos amigos eu tenho? Será que fui um bom filho? Um bom pai? Será que em algum momento eu me sacrifiquei um mínimo por aqueles que tanto fizeram por mim? Será que alguma vez na vida eu mereci a confiança que alcancei?

Será que sou tão forte e feliz quão aparento ser?

..........Sem título.........

Sabe, são essas perguntam que atormentam, que me tiram o sono, que insistem em haver. É difícil ter nas mãos o projeto de um mega edifício, mas um terreno arenoso. É assim minha dicotômica "jihad" passado x presente.


..........Adolescência...........


Será que todas aquelas loucuras da adolescência valeram a pena? Será que aqueles conselhos "caretas" não eram o caminho certo a seguir? Será que deveria ter estudado mais? Eu vivi um bom tempo da vida destruindo e desconstruindo sonhos, meus e dos outros.

Vi, gostei e comprei o tão famoso estilo de vida "Carpe Diem", não me importava com o amanhã. Repetia sempre: "Acorde arrependido, mas não durma com vontade!" Não sei quantas noites me entreguei ao sono fora de casa; não sei com quantos anos experimentei álcool pela primeira vez; não tenho idéia de como foi, sequer, minha primeira vez; lembro quando "viajei" pela primeira vez; lembro do primeiro tiro; não lembro do primeiro trago. São coisas que hoje trago comigo. Lembranças de um passado insólito. Época de intensa "curtição", vivia no limite, à flor da pele. Pensava que o mundo girava em torno de mim. Não conhecia a palavra limite.

Fui o cara mais popular do colégio, o rebelde sem causa, o filho de papaizinho, o playboyzinho metido à besta do qual todos tinham inveja, odiavam, mas respeitavam. O carinha que já "pegou" quase todas as gurias que quiz. Aquele que aos olhos alheios tinha tudo que desejava. Fui a inspiração de muitos outros idiotas contemporâneos meus. Já fui preso. Fui mau exemplo para muitas famílias. Tudo começou quando eu fui o F.A.F. Anos dourados, anos negros.

Ouvia Nirvana e entrava em êxtase. Fumava marijuana com os amigos debaixo da ponte, com o pretexto de ir jogar peteca. Despertei tantas vezes o amor daquelas que tanto fiz sofrer. Fui canalha. Fui covarde. Fui frio. Calculista. Sempre acreditei que estava levando a melhor. Cheguei ao ponto de ser cruel com os outros e comigo mesmo. Sorria dos feios, dos gordos, dos estranhos, das meninas magras. Tinha olho clínico para diagnosticar defeitos alheios. Habilidade rara em caricaturizar terceiros. Sempre comparava alguém com algum personagem de desenho animado. Desrespeitei professores. Soltei bomba no colégio. Tomei suspensão. Fui expulso. Coloquei fogo na barraca da igreja. Bati o carro. Cai de moto. Pichei muros. Comprei companhia. Fisicamente, bati mais do que apanhei. Joguei bola, nunca fui reserva. Eu não tinha uma bola, eu tinha um campinho no quintal de casa. Eu queria ter sido jogador de futebol.


.........Infância........


Eu quero acreditar que fui uma boa pessoa na infância. Quero recordar os tempos em que estudei na Escola A Estrelinha. Fui ótimo aluno, exemplar. Gostei da Tamara e da Rosanne. Um dia eu machuquei o dedo jogando bola no recreio. A gente fazia fila para rezar o salmo 23 e cantar a primeira parte do Hino Nacional. Eu tinha uma professora muito bonita, ela tinha os olhos grandes. Naquele tempo eu tinha uma mochila de rodinhas e uma lancheira azul. Nos finais de semana eu visitava alguns tios e eles me davam chocolate, mas eu gostava de salgadinho. Eu tinha babá. Eu adorava jogar dama. Eu tinha um Super Nintendo. Jogava Mário e Mortal Kombate. Eu tive várias bicicletas. Uma vez eu desmontei um triciclo velho, peguei as rodas traseiras e coloquei na minha bicicleta, eu inventei a "tricicleta".


.......Amores........


Eu sei quando dei meu primeiro beijo, só não me lembro exatamente o nome da menina, Leidiane ou Lidiane, algo assim. Ela era mais velha, nos beijamos na escada da casa do padre. Era novena de algum santo, com certeza o santo da minha cidade. Não sei quem era o santo daquela época, mas lembro que o padre da minha cidade bebia e fumava - pelo menos é o que diziam sobre ele. O nome do meu primeiro amor foi Mara. Fazíamos catequeze junto. O pai dela tinha uma loja de tecidos na cidade. Ela era linda. Eu a amava mais que tudo. Amava tanto que meu maior prazer era acordar aos sábados às 7h para ir à catequeze vê-la. A gente voltava junto, passávamos na lanchonete do Nivaldo, comíamos. Era ia embora. Eu também. Isso bastava. Fiz catequeze 7 anos.

Mudei de cidade. Amei mais duas, talvez três garotas.


....... Presente......


Hoje, tenho 21 anos e algumas "estórias" para contar.


...Texto propriamente não dito...



De fato, um escritor, mesmo que amador como eu, deve concluir o propósito que o fez iniciar a escrever. Este texto escrevi depois de ter brigado com o mundo e comigo mesmo. Com a finalidade de sempre. Isto é: nenhuma.

Apesar da ausência de finalidade, devanear algumas palavras me faz sentir melhor. É um encontro comigo mesmo. E a partir de hoje, com um novo eu. Um cara que tem consciência do que pareceu ser, do que pensaram que fui e - mais importante- de quem foi verdadeiramente.


Enterro, pois, agora o passado. Preocupar-me-ei com o futuro. Construi-lo-ei agora.


E para não ficar muito formal: Foda-se o resto!!!


Goiânia, 31 de maio de 2010.

segunda-feira, 24 de maio de 2010


Às vezes me pergunto o porquê de complicarmos tanto nossa vida. Por que será que sabemos exatamente o que é o certo a fazer e mesmo assim insistimos em fazer errado? Por que será que é tão fácil dar conselhos a amigos e tão difícil segui-los?
Talvez, porque, todos nós, lá no fundo, sejamos um pouco hipócritas. Não por uma questão de escolha, mas por necessidade.

Passamos a vida toda buscando a tal da felicidade. Perdemos tanto tanto tanto tempo nos iludimos em busca do “par perfeito” e esquecemos que a única pessoa que pode nos fazer verdadeiramente feliz é aquela que vemos frente ao espelho...

Sartre afirmava que somos escravos da liberdade, e pensando bem, ele tem razão. Diariamente travamos uma incessante batalha contra nós mesmos, almejamos sempre o senso comum. Todavia, será que é isso mesmo que queremos? Será que após alcançar esse objetivo a vida melhorará? Inconscientemente tomamos escolhas que cremos ser as certas, mesmo quando ficamos inertes diante uma situação estamos tomando a decisão de nada fazer, entende? Utilizamos nosso livre-arbítrio... no fim das contas, somos mesmo escravos da liberdade. E o que machuca é saber que nossos heróis ainda são os mesmos.

Ocorre que muitas dessas nossas decisões nos trazem prejuízos, sofrimento, renúncia do hoje por um amanhã incerto.
Talvez aquele sorriso negado poderia ser a chave para a felicidade a dois. Quem sabe aquele esquisito que era apaixonado por você na infância, não era na verdade seu príncipe encantado (disfarçado)...

É estranho e intrigante como algumas pessoas passam por nossas vidas e marcam. Às vezes imaginamos tê-las eternamente ao nosso lado, são anjos que Deus manda para nos proteger, no entanto, anjos também vão embora. Se voltam ou não, não sei...

Há pessoas que pelo simples fato de existirem já nos fazem mais felizes... Lembre-se de sua família, de seus amigos, de suas paixões e amores - você deve muito a eles, foram eles e elas que contribuíram para você se tornar o que é hoje. E o que você é agora? Houve alguma evolução? Pense no que estava fazendo há um ano, pense como agia, como raciocinava, como tomava suas decisões. Experiências boas e frustrantes se passaram, você teve perspicácia para tirar algum proveito? Não se pode olhar para o passado sem se aprender alguma coisa para o futuro.

Não sou ninguém para dizer o que é certo ou errado, sou uma metamorfose estática, às vezes dinâmica. Um jovem que sonha com o futuro e adora reviver as coisas boas do passado, apesar do maldito preço da nostalgia. Aprendo com os meus erros e com os dos outros também, não tenho todo o tempo do mundo para errar, (in)felizmente.

Acho que voltar atrás diante uma decisão tomada impensadamente não é incerto, incerto é levar uma vida toda só pensando e nada fazer.

Dê valor às pessoas que te amam, sempre cuide bem delas, regue teu jardim para que as borboletas venham até você, persegui-las é perda de tempo, acredite. Aliás, acredite sempre, não importa em quem ou em que, mas acredite - é necessário. Quando tudo está perdido sempre existe um caminho.

Afaste-se de pessoas pequenas, egoístas e invejosas, elas não fazem bem. Fuja da beleza exterior, é coisa mais efêmera que existe no universo. Busque ser um pouco mais humano e enxergue o que aquele rosto ou corpo que não segue os padrões de beleza tem a lhe oferecer. Você não é e nunca será a pessoa mais linda do universo, portanto, ao trocar um sentimento verdadeiro, seja qual for, por um momento de “diversão” você estará simplesmente jogando fora seu tempo, talvez sua oportunidade de ser feliz, pois logo você será, também, trocado.

Aprendi da pior maneira que por mais que você ame alguém, não são as palavras bonitas, declarações de amor, ações ou cenas românticas como a dos filmes que a trarão para você. Isso é algo que está acima de nós. Continue acreditando, deixe o tempo fazer a parte dele. Faça a sua também, espere... espere... espere... Quem sabe um dia sua hora pode chegar... ou talvez não... Pessoas morrem a espera deste dia...

(...)

Não tenha medo de tomar uma decisão, ou melhor, você pode até sentir medo, mas supere-o. Tenha consciência de sua força. É ótimo poder levantar a cabeça e ver que mesmo o mundo tendo caído sobre ela, você foi forte para dar a volta por cima.
Valorize seus amigos, eles são sua segunda família. Tenha humildade para reconhecer um erro e nobreza para pedir perdão.

Nunca deixe de acreditar em seus sonhos, jamais! São eles que fazem você seguir em frente... Não fique magoado se algum sonho acabou antes de se realizar. É a vida, faz parte. Nem sempre vencemos. Campeões são aqueles que nunca desistem. Tentar não significa conseguir, mas todos que conseguiram um dia tentaram.

Não condicione sua felicidade a outra pessoa, seja ela quem for. Muitas das vezes nos deixamos encantar por um rosto bonito, por gostos em comum, por coisas que ambos sentem falta naquele momento. Isso tudo é gostoso, mas quase nunca dá certo. Vá levando a vida, você chegou até aqui sozinho, o que te impede de caminhar novamente? Nada! Você é o seu maior amigo e também inimigo. Tenha domínio sobre se próprio. Lembre-se de que pessoas entram e saem de nossa vida o tempo todo, só lembranças ficam.

Quanto às lembranças, guarde somente as boas. Esqueça traições, brigas, decepções... Não tenha mágoa de ninguém. Lembre-se que por pior que tenha sido uma pessoa em sua vida, em algum momento ela lhe foi útil. Seja tudo na vida, menos ingrato. Ingratidão machuca (e dói). Tenha a maturidade de saber que o mundo dá voltas, tudo que fazemos um dia volta para nós. É só uma questão de tempo.

Esqueça das coisas ruins. Olhe o sol, veja quão bela é a vida. Agradeça a DEUS por estar vivo. Amanhã será melhor que hoje, pense positivo. Nossos pensamentos movem o universo. Vá atrás de seus sonhos, lute! Coloque DEUS em primeiro lugar e você alcançará todos os objetivos de sua vida.

Pare de reclamar da vida, cresça e veja que você não tem nenhum problema em sua vida. Tem problema aquele que está com um ente querido à beira da morte, aquele que tem uma doença terminal, aquele que vê seu filho chorar de fome e nada pode fazer. Acorde!

Por que esperar se podemos começar tudo de novo, agora mesmo? Perceba que portas se abrem todos os dias, o problema é que nem sempre enxergamos. Às vezes nosso egoísmo, nosso orgulho ou mesmo a burrice nos cegam.
Defina prioridades em sua vida, elas determinarão seu sucesso. Preocupe-se com o que realmente tem importância. Esqueça esses detalhes que não te deixam crescer. Se preciso, mude radicalmente. Mudar é sinal de evolução.

Não acredite em tudo que digo, não se esqueça que sou humano, um dissimulado - vitíma da vida - mas ao menos reflita sobre essas simples e espontâneas palavras. Palavras de alguém que passou por uma fase difícil e começou a ver a vida com outros olhos. Um alguém tão jovem mas que já percorreu um longo caminho... Ouso a dizer que já conheci o céu e o inferno. Aconselho que se você quer ter a chance mínima de se decepcionar, acredite somente em você. No fim da estrada, você poderá olhar para trás e sorrir ou quem sabe chorar. Só depende de você!
[Dedicado a Biiiaa!]

quinta-feira, 20 de maio de 2010


Sim, revi velhos conceitos e analisei velhos sonhos.
Não há para onde correr. Certas coisas hei de deixar por conta do destino.
Vou seguir em frente. Pacientemente. Calmamente. Paulatinamente.
Talvez tenha sido somente uma crise imediatista, dessas que todos jovens possuem.
É bom passar por momentos difícies, é bom reconhecer os verdadeiros amigos, perceber o valor das coisas que realmente tem valor:
Deus, família e amigos.

E é isso, vou continuar seguindo em frente. Acreditar na justiça da vida. Acreditar no meu bom Deus.
Seguir em frente sempre...
Não parar jamais. Afinal a diferença entre buscar e alcançar pode ser de um único passo.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

" , aquele papo sobre um futuro promissor, sobre renunciar o hoje em prol de um futuro 'tranquilo'..."

Por favor, não me venha, não hoje, com essa insana demagogia alienadora. Ditadora de sonhos. Venderam-me sonhos tão bons que cheguei a acreditar que eram meus!
Às vezes, cansa essa constante dosagem de "ânimo", essa fé em que as coisas irão melhorar, esse otimismo dissimulado o qual todo santo dia desse a garganta arranhando.
Estou cansado de correr na direção contrária, como dizia Cazuza: sem pódio de chegada ou beijo de namorada...

Está na hora de rever alguns princípios.!

domingo, 25 de abril de 2010


[...]"Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão"


Com os versos do grande e imortal Vinícius de Moraes - "o capitão do mato, o poeta e diplomata, o branco mais preto do Brasil" - é que inicio mais um devaneio desobrigado, sutil e forçadamente espontâneo. Talvez influenciado por experiências pregressas, quiçá pelo contato com certas pessoas incertas, pois, fez-me refletir acerca da velha questão aparência versus essência.
Essa dicotomia tão presente na contemporaneidade parece querer definir-se.
Há uma clara tendência à supervalorização da estética em detrimento do conteúdo.
Sim, talvez beleza seja fundamental. No entanto, só beleza não basta. "Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza".
Conheci, recentemente, mulheres que se aproximam muito do ideal de beleza estética que reina na atualidade. Todavia, salvo rara exceções (e com perdão pelo pleonasmo), a maioria era encantadora, enquanto em silêncio - se fossem estátuas, seriam perfeitas. Contudo, notei um extremo ao me aproximar, ao tentar um diálogo, a decepção foi tremenda. Tão fúteis, frívolas, volúveis. Incita-me esse fato tão, digamos, cruel. Por que bela, se coxa? Por que coxa, se bela? Diria Machado de Assis.
Eu digo: por que burra, se bela? Por que bela, se burra?
Por que diabos não tentam conciliar as duas coisas? Beleza é dádiva, o restante é conquistado com esforço. Se teve a sorte de nascer bela, qual o motivo de querer ficar somente bela? Não se dão conta que mais cedo ou mais tarde a descoberta de Newton se concretizará, gostem ou não.
Não escrevo com um revoltado com a beleza. Amo-a como amo os pandas chineses.
E a questão comum de dois genêros. Atinge homens e mulheres. Escolhi falar sobre mulheres por motivos óbvios. Entretanto, há sim, e não são poucos, homes que malham muito o corpo e esquecem da mente.
De fato, entristece-me o fato que é hoje tão reinante. Causa-me nostalgia assistir aos videos dos meus ídolos da década de 70 e 80. Sorte deles estarem mortos.
É louvável fazer uma ressalva: conheço muitas mulheres lindas e belas! Digo, lindas e inteligentes, com conteúdo. Uma ressalva dentro da ressalva: não são muitas assim, na verdade.
No entanto, deveras, quase todos seguem o caminho em que acrediam ser o correto; muitos optam pelo mais fácil; outros vivem eternamente seguindo trilhas alheias.
Ter algo além da beleza é tilhar um caminho próprio, é poder caminhar independente de sorte...

Inspiração: http://www.youtube.com/watch?v=xYBhS6Ej5D4&feature=related

domingo, 18 de abril de 2010

Hodierno




Às vezes quando chego em casa, minha solião diz "boa noite", logo em seguida retiro todas as máscaras que usei durante o dia, sinto-me consideravelmente mais leve, acendo um cigarro, logo apago. Tenho fome, mas nem sempre como. A solidão me chama, finjo não ouvi-la, ela grita, então pego o telefone e passo algumas mensagens, antes, claro, recoloco algumas máscaras. Ligo a TV, quase sempre no mesmo horário, as notícias são as mesmas. A Campanhinha toca, é o tédio chegando, mal me cumprimenta, entra sem pedir licença e acomoda-se ao lado da solidão... às vezes conversamos durante horas; não gastamos, sequer, uma palavra. Olho no relógio, quase sempre na mesma hora, a consciência pesa, fico triste, o telefone toca - não é quem eu espero, fico tristão. Um triste consciente, pois sei que quem eu espero não irá me ligar. É um auto-engano, preciso dele para continuar a respirar. O corpo está cansado, a mente também. Resolvo tomar um banho, pego três toalhas, uso somente duas. Não gosto de roupas, é só mais um tipo comtemporâneo de máscara. O tédio cansa-se, diz "até amanhã" e vai embora. Acendo outro cigarro, observo a fumaça, a invejo, sai livre, sem rumo, logo desaparece... nunca mais a verei. Resolvo ir até a sacada, procuro estrelas, não vejo, o céu está poluído; e a lua, cadê? Ah, já ia me esquecendo que um dia eu a te dei. Olho a minha volta e nada vejo além de prédios vazios, escuros, somem no céu negro. Tenho vontade de sair por aí sem rumo, não posso!, a cidade é violenta. Lembro-me de alguns poucos amigos, sinto saudade da ignorância. Relembro o passado e sorrio, uma lágrima escorre. A última fumaça se despede... estou novamente só! Um amigo que já se foi me vem à cabeça, me pergunto "onde estará"? Sinto o gosto cheiroso da lágrima não mais solitária, as horas passam, já é quase hora de recolocar as máscaras, já estão velhas, cansadas, preciso trocá-las. A solidão me diz algo baixinho, sussura de novo, mas eu não consigo ouvir, então a chamo, ela vem sorrateiramente, enxuga minha lágrima, me faz um afago, diz que não é pra eu ficar assim, me abraça forte e, chorando, me diz "não chore, estou aqui, NUNCA VOU TE ABANDONAR". Nossa solidão nos consola. A solidão me olha nos meus olhos, elogia meu sorriso triste, me convida pra deitar, eu aceito. Durmo com três travesseiros, uso apenas dois... o sono não vem, deve estar ocupado. A solidão começa a contar histórias do passado, nos perdemos em meio a gargalhadas contidas... ela me conta sobre o futuro, fala bastante dele, tenho vontade de conhecê-lo, mas ao mesmo tempo tenho medo, ele parece ser tão incerto. Dizem que ele vem e vai embora e nem notamos. Algo bate à porta, é o sono, um visitante importante, quase nunca aparece. A luz ainda permanece acesa, olho para o teto, conto estrelas; olho para o lado, vejo grades, levanto e vou até o banheiro, escovo os dentes, olho ao espelho e nada vejo... nada... Então apago a luz... Vou me deitar, abraço a solidão, ela me aperta bem forte, muito forte... acho que, finalmente, dormimos, a noite é eterna... não há sonhos... nunca existiram!


Goiânia, 03/06/2008 01h38m

quinta-feira, 8 de abril de 2010


Sim, mais uma meia noite chega, encontro-me acordado. Diferentemente da maioria das vezes, não estou a estudar. Hoje, excepcionalmente, e por motivos que são irrelevantes, resolvi "mexer" no passado. Reler velhos textos, comtemplar antigas fotos, sentir antiquadas saudades. Às vezes é bom parar, tentar sair de si, analisar friamente a situação. Perceber o que mudou, se evoluímos ou retrocedemos. Um fato que me fez sorrir, não sei por felicidade, tristeza ou saudade foi o de ver algumas fotos minhas do ano de 2006 e 2007. Em quase todas eu estava com amigos, bebendo, em shows de sertanejo, simplesmente "curtindo" a vida. Fui, sim, um legítimo peralta (para usar de um bom eufemismo). Não conhecia a palavra compromisso. Tinha alergia a responsabilidade. Era adepto incondicional do modo de vida "Carpe Diem". Talvez um dia eu diga que foram bons tempos. São lembranças relativamente recentes, estaria arriscando ao julga-las.

Os anos se passaram, muita coisa mudou, claro. Tenho saudade de algumas coisas que aquele antigo Fernando fizera. Tenho saudade da sua coragem, do seu modo de encarar a vida, do seu otimismo dissimulado. Hoje, todavia, este Fernando "reformado" tornou-se realista. Às vezes, exagera no realismo de vida. Esqueceu-me de que a verdade não vale tanto assim. O Outro sorria; este pensa. O Outro assistia TV; este lê. O Outro chorava; este não tem sentimentos. O Outro amava e era amado; este nem tanto. O Outro vivia; este sonha. O Outro cantava; este assovia para sobreviver.

Sabe, paro e penso, valeu a pena? Toda essa mudança comportamental trouxe benefícios? Racionalmente falando, sim. É uma situação delicada na qual a melhor medida é a ponderação. Entretanto, eis o grande dilema: lei do tudo ou nada. Nunca consegui viver "pelas metades". Sempre coloquei todos os ovos em um só cesto. Talvez seja essa a grande questão. Não nasci para ser meio termo, mais um meio termo no mundo feito quase que totalmente de meio termos.

Há que se procurar fazer a diferença. Procurar, inventar se preciso, um sentido para a existência. Faz-se necessário um objetivo de vida. Um sonho que nos mova, que nos dê força. Que faça valer a pena acordar. A vida sem um objetivo, não faz sentido. Simplesmente viver é tornar-se um vegetal. Simplesmente sentir é renegar o que nos diferencia dos demais animais: o poder de raciocinar. Projetar o futuro, pensar, imaginar, criar. Isso é relevante. Explorar mais os sentimentos secundários. Deixar um pouco de lado o simples sentir, pois esse, quer queira ou não, nos acompanhará sempre. Deve-se, portanto, trabalhar a parte esquecida. Todos sabem o que quero dizer. Não há nada de novidade dito por meio desse conjunto de signos. A grande sacada é acordar para a vida, agir, "desletargizar-se".

Apesar de sentir saudade dos sorrisos das fotos antigas, não o trocaria pela seriedade que agora me acompanha. Normalmente depois de um sorriso vem uma lágrima.

sábado, 6 de março de 2010

Um sábado à goiana!


Sábado, quase já é noite.

Voltando do curso, passei em frente a alguns dos bares mais "badalados" de Goiânia (Gyn, como costumam falar os mais "descolados").

Dava gosto de se ver toda aquela população boêmia disputando o melhor lugar - uma mesa que daria vista ao charmoso e fétido Parque Vaca Brava - alguns exibindo seus carros caros, suas mulheres lindas e seus dotes excêntricos.

É, sem dúvida, o habitat ideal para dar liberdade aos sentimentos sertanejos mais primitivos, tão característicos dos goianos. Álcool, um par de chavelhos e um ambiente elitizado, eis tudo o que um bom goiano necessita para matar o tédio dos triviais e monótonos fins de semana goianiense.

Numa luta contínua contra os elevados decibéis advindos das "gargantas de ouro" de nossa terra, tentam mostrar sua gama de erudição. Dissertam acerca das notícias exclusivas transmitidas à população por meio do insólito Batista Pereira. São observadores: sabem exatamente quantos tiros cada "presunto" levou, local e hora do ocorrido. O terremoto no Chile também enfeita a salada de informações, temperada com algumas doses de "Jack". Entre uma baforada e outra, cita-se a mais recente vergonha política nacional: Arruda. Ouve-se, meio que aos sussurros, alguém defendê-lo. Há filhos de políticos importantes à mesa, muda-se logo de assunto. Claro, discorrem sobre futebol (não poderia faltar), hoje há clássico local: Vila Nova X Atlético Goianiense. É muita emoção para um só sábado!

Ainda é cedo, "a noite é uma criança". "Garçon, desce mais uma!" E assim passa-se o tempo na cidade que, segundo o Governo, possui a melhor qualidade de vida e a maior área verde por habitante do país. Que orgulho!

Alguns "points" possuem nomes bem sugestivos ao ambiente e à localização: Taurinos, Búfalus, Kabana´s, Caballo, Montanna. Aludem a uma fazenda ou tribo? Claro que não! Isso é nossa imaculada elite urbana. Todavia, há estabelecimentos que tentam enganar seus fidedignos clientes utilizando nomes fantasiosos: Gelin, Pinguim, Maré Alta, Cantinho Frio. Um bom goiano, aquele macho mesmo, que faz questão de explorar a sonoridade do erre, sabe muito bem que nossas tardes (e noites) são literalmente bem quentes! Então, "como não tem mar, vamos para o bar (refrescar)". Reis do improviso!

O etanol começa a surtir efeito, a fala fica mais mansa, os sorrisos são mais sinceros, até as mulheres deixam de lado, por um instante, o estojo de maquiagem e o "espelinho" e arriscam relatar sua árdua e interessante semana: "Nossa, gente, vocês não acreditam o que aconteceu com a Vânia, é, a namorada do Fred, pegou ele no pulo com a Denise. Gente, ela me ligou, chorou horrores e quando eu [...]" O relato interessantíssimo é interrompido por uma ovação geral, tocou o modão da vez; a autoria é de uma dupla cujo nome deve rimar. É um momento de êxtase, todos cantam aos gritos, alguns mais ousados proferem a máxima: "Aôh mundão véi sem porteira"; outros, mais tímidos, simplesmente bebem.

E assim continua a assembleia ordinária goianiense, vai até altas horas. Prefiro poupar expor mais detalhes. Afinal, privacidade é um direito de todos. "Garçon, desce a saideira e passa a regua!" Desse modo, costuma-se fechar a noite. "Vamos, não demora!" A pressa tem explicação: a BR-153 fica longe, é um longo caminho para ir e voltar. "Rápido, amanhã temos que ir à missa matinal!"...




sábado, 20 de fevereiro de 2010


Brigas... e Depois?
Santa Cruz, número 3 - 05/63

Eram meras questões de minutos.
E o encontro dos namorados mais parecia um duelo de ciúmes.
— Você chega sempre atrasado.
— É, sei.
E ontem, quem é que ficou aqui esperando, que nem um pateta?
— Ah, eu só atrasei dois minutos. Hoje você atrasou dez.
— Você é que chegou adiantada. Mas deixa que qualquer desses dias eu descubro o que você tanto faz, que nunca chega na hora certa.
E as discussões se sucediam, sem pé nem cabeça. Mas ciúmes são cegos como o próprio amor. São sentimentos mesquinhos, minuciosos, não esquecem a insignificância dos mínimos segundos. As batidas do coração jamais deveriam se escravizar aos tiquetaques desencontrados de dois relógios diferentes.A verdade, porém, é que eram ambos loucos, um pelo outro, e seus corações acabavam por se entender, num ritmo comum de compreensão. E as hostilidades descansavam invariavelmente em beijinhos e mil perdões.
— Desculpe, viu, amor?
— Que nada, meu bem, a culpa foi toda minha.
— Não, eu é que fiquei nervosa.
— Deixa disso, eu banquei o bruto.
Por pouco não voltavam a discutir.Assim correram muitos meses e muitas, muitas brigas, e os dois não chegavam a um acordo. Mas a vida tem dessas coisas. Quando se dá conta, a felicidade já é irremediavelmente retrato na parede, cartinha na gaveta, passando.Alguns anos mais tarde, ela se casava com um rapaz bonito, tipo galã da Metro. Viveram em harmonia, sem brigas, sem discussões, talvez por falta de imaginação do atlético marido.Por outro lado, o antigo namorado da adolescência não tardou a se apaixonar pelo lindo dote de uma mocinha que era um tesouro, filha de próspero industrial. Embora se tratasse de uma menina meio café-com-leite, sua herança lhe dava um quê de exótico. Alimentava por ela uma intensa, excêntrica paixão, enquanto que o bonachão rodava com seu Rolls-Royce, jogava em Monte Carlo e repousava em seu iate transatlântico. E numa atitude de misericórdia, suportava, geralmente, como um senhor onipotente, os carinhos milionários da esposa.Muito tempo depois, porém, por um desses acasos que só o destino sabe explicar, os dois antigos namorados se encontravam nas areias de Copacabana, que é a praia onde todos vão. Já não eram os mesmos. Ele parecia carregar os milhões matrimoniais na respeitável barriga. Ela continuava encantadora, mas apenas na medida que possa encantar uma mulher de cinqüenta anos. Conversaram pouco, o silêncio disse mais. E voltaram a se encontrar, com mais freqüência e menos acaso. Já eram, no entanto, velhos demais para as inflamadas e inúteis discussões dos dezessete anos. Caminhavam calmamente pela areia molhada, mão na mão, por mais ridículo que possa parecer para a sua idade. Caminhavam sem rumo, sem tempo, sem horizonte. E quando se voltavam, sentiam a nostalgia da vida perdida em poucos minutos.
(Chico Buarque de Holanda)
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Velho Chico, cheio de sapiência. Um texto que faz refletir acerca de nossas ações cotidianas. A máxima de que "a gente só dá valor depois que perde" faz, sim, sentido. Há, todavia, pessoas que, sabe-se lá por que, têm perspicácia suficiente, coragem e atitude para valorizar o presente. Talvez tenham, no passado, perdido algo (ou alguém) muito importante. Convivem, pois, com essa perda. Há um ditado que diz: " Um tropeço pode evitar uma queda". Uma perda pode significar um tropeço, não necessariamente uma queda. Ocorre, entretanto, que há quem se acostume com constantes tropeços - fato que descolori a vida, desalegra a alma e, pior, traz o sentimento de acomodação.
[...]
Não, eu não me resignarei diante às dificuldades. Hei de enxergar, então, possibilidades. Não cheguei até aqui por acaso. Se eu tiver uma chance, transforma-la-ei em vitória!
Eu tenho uma chance! Mãos à obra, portanto...
(Arataque, Fernando. )