"Como é vão sentar-se e escrever se você não se levantou para viver!
(Henry D. Thoreau)"


domingo, 25 de abril de 2010


[...]"Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão"


Com os versos do grande e imortal Vinícius de Moraes - "o capitão do mato, o poeta e diplomata, o branco mais preto do Brasil" - é que inicio mais um devaneio desobrigado, sutil e forçadamente espontâneo. Talvez influenciado por experiências pregressas, quiçá pelo contato com certas pessoas incertas, pois, fez-me refletir acerca da velha questão aparência versus essência.
Essa dicotomia tão presente na contemporaneidade parece querer definir-se.
Há uma clara tendência à supervalorização da estética em detrimento do conteúdo.
Sim, talvez beleza seja fundamental. No entanto, só beleza não basta. "Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza".
Conheci, recentemente, mulheres que se aproximam muito do ideal de beleza estética que reina na atualidade. Todavia, salvo rara exceções (e com perdão pelo pleonasmo), a maioria era encantadora, enquanto em silêncio - se fossem estátuas, seriam perfeitas. Contudo, notei um extremo ao me aproximar, ao tentar um diálogo, a decepção foi tremenda. Tão fúteis, frívolas, volúveis. Incita-me esse fato tão, digamos, cruel. Por que bela, se coxa? Por que coxa, se bela? Diria Machado de Assis.
Eu digo: por que burra, se bela? Por que bela, se burra?
Por que diabos não tentam conciliar as duas coisas? Beleza é dádiva, o restante é conquistado com esforço. Se teve a sorte de nascer bela, qual o motivo de querer ficar somente bela? Não se dão conta que mais cedo ou mais tarde a descoberta de Newton se concretizará, gostem ou não.
Não escrevo com um revoltado com a beleza. Amo-a como amo os pandas chineses.
E a questão comum de dois genêros. Atinge homens e mulheres. Escolhi falar sobre mulheres por motivos óbvios. Entretanto, há sim, e não são poucos, homes que malham muito o corpo e esquecem da mente.
De fato, entristece-me o fato que é hoje tão reinante. Causa-me nostalgia assistir aos videos dos meus ídolos da década de 70 e 80. Sorte deles estarem mortos.
É louvável fazer uma ressalva: conheço muitas mulheres lindas e belas! Digo, lindas e inteligentes, com conteúdo. Uma ressalva dentro da ressalva: não são muitas assim, na verdade.
No entanto, deveras, quase todos seguem o caminho em que acrediam ser o correto; muitos optam pelo mais fácil; outros vivem eternamente seguindo trilhas alheias.
Ter algo além da beleza é tilhar um caminho próprio, é poder caminhar independente de sorte...

Inspiração: http://www.youtube.com/watch?v=xYBhS6Ej5D4&feature=related

domingo, 18 de abril de 2010

Hodierno




Às vezes quando chego em casa, minha solião diz "boa noite", logo em seguida retiro todas as máscaras que usei durante o dia, sinto-me consideravelmente mais leve, acendo um cigarro, logo apago. Tenho fome, mas nem sempre como. A solidão me chama, finjo não ouvi-la, ela grita, então pego o telefone e passo algumas mensagens, antes, claro, recoloco algumas máscaras. Ligo a TV, quase sempre no mesmo horário, as notícias são as mesmas. A Campanhinha toca, é o tédio chegando, mal me cumprimenta, entra sem pedir licença e acomoda-se ao lado da solidão... às vezes conversamos durante horas; não gastamos, sequer, uma palavra. Olho no relógio, quase sempre na mesma hora, a consciência pesa, fico triste, o telefone toca - não é quem eu espero, fico tristão. Um triste consciente, pois sei que quem eu espero não irá me ligar. É um auto-engano, preciso dele para continuar a respirar. O corpo está cansado, a mente também. Resolvo tomar um banho, pego três toalhas, uso somente duas. Não gosto de roupas, é só mais um tipo comtemporâneo de máscara. O tédio cansa-se, diz "até amanhã" e vai embora. Acendo outro cigarro, observo a fumaça, a invejo, sai livre, sem rumo, logo desaparece... nunca mais a verei. Resolvo ir até a sacada, procuro estrelas, não vejo, o céu está poluído; e a lua, cadê? Ah, já ia me esquecendo que um dia eu a te dei. Olho a minha volta e nada vejo além de prédios vazios, escuros, somem no céu negro. Tenho vontade de sair por aí sem rumo, não posso!, a cidade é violenta. Lembro-me de alguns poucos amigos, sinto saudade da ignorância. Relembro o passado e sorrio, uma lágrima escorre. A última fumaça se despede... estou novamente só! Um amigo que já se foi me vem à cabeça, me pergunto "onde estará"? Sinto o gosto cheiroso da lágrima não mais solitária, as horas passam, já é quase hora de recolocar as máscaras, já estão velhas, cansadas, preciso trocá-las. A solidão me diz algo baixinho, sussura de novo, mas eu não consigo ouvir, então a chamo, ela vem sorrateiramente, enxuga minha lágrima, me faz um afago, diz que não é pra eu ficar assim, me abraça forte e, chorando, me diz "não chore, estou aqui, NUNCA VOU TE ABANDONAR". Nossa solidão nos consola. A solidão me olha nos meus olhos, elogia meu sorriso triste, me convida pra deitar, eu aceito. Durmo com três travesseiros, uso apenas dois... o sono não vem, deve estar ocupado. A solidão começa a contar histórias do passado, nos perdemos em meio a gargalhadas contidas... ela me conta sobre o futuro, fala bastante dele, tenho vontade de conhecê-lo, mas ao mesmo tempo tenho medo, ele parece ser tão incerto. Dizem que ele vem e vai embora e nem notamos. Algo bate à porta, é o sono, um visitante importante, quase nunca aparece. A luz ainda permanece acesa, olho para o teto, conto estrelas; olho para o lado, vejo grades, levanto e vou até o banheiro, escovo os dentes, olho ao espelho e nada vejo... nada... Então apago a luz... Vou me deitar, abraço a solidão, ela me aperta bem forte, muito forte... acho que, finalmente, dormimos, a noite é eterna... não há sonhos... nunca existiram!


Goiânia, 03/06/2008 01h38m

quinta-feira, 8 de abril de 2010


Sim, mais uma meia noite chega, encontro-me acordado. Diferentemente da maioria das vezes, não estou a estudar. Hoje, excepcionalmente, e por motivos que são irrelevantes, resolvi "mexer" no passado. Reler velhos textos, comtemplar antigas fotos, sentir antiquadas saudades. Às vezes é bom parar, tentar sair de si, analisar friamente a situação. Perceber o que mudou, se evoluímos ou retrocedemos. Um fato que me fez sorrir, não sei por felicidade, tristeza ou saudade foi o de ver algumas fotos minhas do ano de 2006 e 2007. Em quase todas eu estava com amigos, bebendo, em shows de sertanejo, simplesmente "curtindo" a vida. Fui, sim, um legítimo peralta (para usar de um bom eufemismo). Não conhecia a palavra compromisso. Tinha alergia a responsabilidade. Era adepto incondicional do modo de vida "Carpe Diem". Talvez um dia eu diga que foram bons tempos. São lembranças relativamente recentes, estaria arriscando ao julga-las.

Os anos se passaram, muita coisa mudou, claro. Tenho saudade de algumas coisas que aquele antigo Fernando fizera. Tenho saudade da sua coragem, do seu modo de encarar a vida, do seu otimismo dissimulado. Hoje, todavia, este Fernando "reformado" tornou-se realista. Às vezes, exagera no realismo de vida. Esqueceu-me de que a verdade não vale tanto assim. O Outro sorria; este pensa. O Outro assistia TV; este lê. O Outro chorava; este não tem sentimentos. O Outro amava e era amado; este nem tanto. O Outro vivia; este sonha. O Outro cantava; este assovia para sobreviver.

Sabe, paro e penso, valeu a pena? Toda essa mudança comportamental trouxe benefícios? Racionalmente falando, sim. É uma situação delicada na qual a melhor medida é a ponderação. Entretanto, eis o grande dilema: lei do tudo ou nada. Nunca consegui viver "pelas metades". Sempre coloquei todos os ovos em um só cesto. Talvez seja essa a grande questão. Não nasci para ser meio termo, mais um meio termo no mundo feito quase que totalmente de meio termos.

Há que se procurar fazer a diferença. Procurar, inventar se preciso, um sentido para a existência. Faz-se necessário um objetivo de vida. Um sonho que nos mova, que nos dê força. Que faça valer a pena acordar. A vida sem um objetivo, não faz sentido. Simplesmente viver é tornar-se um vegetal. Simplesmente sentir é renegar o que nos diferencia dos demais animais: o poder de raciocinar. Projetar o futuro, pensar, imaginar, criar. Isso é relevante. Explorar mais os sentimentos secundários. Deixar um pouco de lado o simples sentir, pois esse, quer queira ou não, nos acompanhará sempre. Deve-se, portanto, trabalhar a parte esquecida. Todos sabem o que quero dizer. Não há nada de novidade dito por meio desse conjunto de signos. A grande sacada é acordar para a vida, agir, "desletargizar-se".

Apesar de sentir saudade dos sorrisos das fotos antigas, não o trocaria pela seriedade que agora me acompanha. Normalmente depois de um sorriso vem uma lágrima.