"Como é vão sentar-se e escrever se você não se levantou para viver!
(Henry D. Thoreau)"


segunda-feira, 19 de julho de 2010

Isso é muita sabedoria

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer.

(Clarice Lispector)

Não costumo postar textos de terceiros. Gostei muito, entretanto, das sábias palavras de grande e imortal Clarice Lispector.
Certas vezes na vida, queremos tanto algo que ficamos cegos, alheios à realidade.
Fazemos o possível e o impossível na tentativa de realizar nossos sonhos, alcançar os almejados objetivos. É fato que ninguém gosta de perder. Todavia, para que haja um vencedor deveras há de existir um perdedor. Às vezes querer muito, batalhar demais, sofrer, renunciar não é o bastante. Há elementos que estão fora de nosso alcance, por mais fortes que sejamos ficamos impotentes diante certas questões - e amor é a principal delas.

Não há fórmulas para o amor. Como já citado, amor pode simplesmente nascer ou não. Que bom seria se amássemos todos que nos amam e que todos que amamos nos amassem também. Mas a vida não é assim. Amor não se escolhe, amor se vive. Muitas pessoas são infelizes porque vivem buscando um grande amor. Quanta perda de tempo, isso é vida jogada fora. É necessário levar alguns tropeços para entender o que Clarice quis dizer com aquelas palavras de pura sabedoria. No entanto, há pessoas que passam a vida sem compreender; há pessoas que compreendem e passam a vida se enganando; há pessoas que não amam a si próprio e insistem em querer encontrar um grande amor. Isso causa pena.

A felicidade surge para aqueles que choram. Lutar por aquilo que ama é fundamental; saber perder é nobre. Aceitar a derrota e partir para outra batalha é, muitas vezes, a única opção. Não gosto de ver pessoas "sofrendo" por amor, choramingando pelos cantos porque perdeu alguém que julgava importante. Lágrimas não fazem o tempo voltar. Relembrar não é viver. Mendigar sentimentos não trará amor. Flores não trazem amor. Serenatas não trazem amor. Cartas não trazem amor. Várias horas de conversa não trazem amor. Promessas de mudança não trazem amor. O amor surge espontâneamente do nada e também vai embora do nada. Tentar prendê-lo é a melhor maneira de ser infeliz.

Como disse Vinícius de Moraes: "Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure". O amor é um estado de espírito passageiro, vai e vem como a felicidade e a tristeza. Vive disputando espaço com a solidão. O amor não tem casa. O amor é cigano. O maior erro humano é tentar domesticar o amor, seqüestrá-lo, monopolizar um sentimento universal... Sim, o amor é gostoso, traz sensações indescritíveis e faz a vida valer a pena. Mas repito: é algo volátil e passageiro. O incerto é querer ressuscitar o passado. O triste é renunciar o presente e viver de ilusões pregressas; idealizar um futuro que todos sabem ser impossível sua concretização é auto-engano. Machado de Assis, nosso grande mestre, já nos alertou: "Sonharás uns amores de romance, quase impossíveis? Digo-lhe que faz mal, que é melhor, muito melhor, contentar-se com a realidade; se ela não é brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir."

Ninguém sonha em terminar seus dias velho, doente e solitário. Contudo, renunciar as alegrias da vida, tentar constantemente conquistar um alguém e viver de caridade sentimental não é a melhor maneira de evitar a solidão. (A solidão, carma (karma) do contemporanêidade, monstro de sete cabeças para muitas pessoas). Indigna-me o fato de as pessoas não conseguirem, muitas vezes, conviver exclusivamente consigo mesmas. Sabe, não entendo como alguém que não consegue ficar sozinho viver buscando um "grande amor". Para mim, é irracional. Se você não capaz de estar consigo mesmo como espera que haja alguém no mundo que consiga?!... Entende? É como se o fardo de existir fosse pesado demais e juntando duas cargas o "peso existencial" ficasse menor. Não faz sentido...

Costumo observar algumas pessoas que trocam de namorado assim como trocam de roupa. Vejo, além da escancarada futilidade, o enorme vazio que carregam. Fico inquieto com o fato de essas pessoas passarem boa parte da vida se adequando a moldes a fim de serem aceitas, bem quistas, "amadas". Muitas vezes, torturam-se em dietas desumanas, permutam forçadamente de opinião, vivem em constantes transformações, perdem a essência do que verdadeiramente são com o intuito de agradar às pessoas que estão à sua volta. Isso é lastimável, contudo não raro. Porém, é errado.
Cabe aqui um texto que certa vez li:

"O velho Mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d'água e bebesse.
-'Qual é o gosto?' - perguntou o Mestre.
-'Ruim' - disse o aprendiz.
O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago.
Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago. Então o velho disse:
-'Beba um pouco dessa água'. Enquanto a água escorria do queixo do jovem o Mestre perguntou:
-'Qual é o gosto?' -'Bom!' disse o rapaz.
-'Você sente o gosto do sal?' perguntou o Mestre.
-'Não', disse o jovem.
O Mestre então, sentou ao lado do jovem, pegou em suas mãos e disse:
-'A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido de tudo o que está a sua volta.
É dar mais valor ao que você tem do que ao que você perdeu. Em outras palavras:

É deixar de ser copo, para tornar-se um Lago." (Desconheço a autoria)


Essa passagem ilustra bem o que quero dizer. Não se deve resumir a vida (ou a felicidade) a um amor romântico. A vida é muito além e não ser "desperdiçada" em vão. Voltando às linhas iniciais do texto, "Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer."
Antes sair por aí procurando (em vão) um "grande amor", ame-se mais que tudo. Não gosto de regras, contudo há paradigmas que são imutáveis. Eis um deles: Realize-se primeiro para só depois pensar em ser feliz a dois.

Minhas palavras não tem validade científica, são de base puramente empírica, mas é o que me faz seguir sempre em frente. Perdi muito tempo na vida buscando o amor, cheguei a acreditar que certa vez havia perdido um grande amor. Hoje, todavia, após anos e depois de muita vivência, tenho a consciência de tudo que o acima foi dito. Se a vida for um jogo, e você tiver que apostar em uma só jogada, aposte naquela em que a vitória dependerá unica e exclusivamente de você mesmo. Não é prudente contar com a sorte ou outras variáveis.

O ser humano é composto por sentimentos, mas também de razão. E entre esta e aquela, prefira a segunda. Contudo, deixo claro: o amor é fundamental. Deixe por conta do destino, mais cedo ou mais tarde o amor esbarra em você, quando você menos esperar estará vivendo, sim, um grande amor. Entretanto, não perca tempo perseguindo-o. Dedique-se a objetivos concretos; deixe os sonhos românticos por conta do acaso. Afinal, "Não precisar correr tanto; o que tiver de ser seu às mãos lhe há de vir" (M. de A.)

Fim.



Nota: Esse foi, por um bom tempo, meu último texto. Tenho, agora, objetivos a serem alcançados e que necessitam de total dedicação. Obrigado a todos os possíveis visitantes.