"Como é vão sentar-se e escrever se você não se levantou para viver!
(Henry D. Thoreau)"


sexta-feira, 22 de maio de 2015

Para que somar, se a gente pode dividir?

Em alguns momentos da vida, temos que tomar decisões e assumir responsabilidades! Às vezes temos que ser duros com a gente e, mais difícil ainda, com outras pessoas. Em alguns momentos somos obrigados a agir de forma enérgica e impor autoridade. Ser sério, às vezes, é necessário.
Isso não implica, no entanto, que devamos ser pessoas tristes!
Adotamos a cada novo dia uma postura. Levantamos do conforto de nossas camas a fim de alcançar sonhos, batalhamos dia e noite a fim proporcionar a nós e a quem amamos uma vida melhor. Estudamos, trabalhamos, pagamos nossos (pesados) impostos sem muitas vezes questionar se tudo isso faz realmente sentido... Sacrificamo-nos demais!
Não, eu não quero dizer que a solução seja se tornar Hippie e sair pelo mundo ofertando sua possível arte, embora admire por demais quem sonhou e - diferentemente da maioria - teve a coragem de concretizar essa vontade. 
Acredito, no entanto, que muitas das vezes, talvez devido à intensidade da vida urbana ou talvez à falta sensibilidade, corremos demais e deixamos para trás aquilo que tanto buscamos. 
Qual de nós nunca olhou uma foto antiga e pensou: "eu era feliz e não sabia"?
A vida passa e a cada dia parece passar mais rápido. Há sempre aquela (falsa?) sensação de que o amanhã será melhor! Há meio que implícito a promessa de que vale a pena correr atrás. Quem acredita realmente sempre alcança? Só se é feliz alcançando o primeiro lugar do Podium?
Quanto vale a nossa felicidade? Qual a renda mensal devemos ter para, enfim, sermos felizes?...
Eu não sei quanto a vocês, mas em minha memória os maiores momentos de alegria que carrego são extremamente simples. 
"Não se precisa de muito para ser feliz"!. Discordo. Não se precisa de muita grana para ser feliz. Acredito que para ser feliz precisamos sim de muita coisa! Caráter, amizades sólidas, uma família (a defina como lhe convir), princípios, moral, ética, respeito, educação, liberdade etc.
O problema que infelizmente exergo na sociedade atual é que tendo dinheiro, automática e magicamente todas essas infinitas coisas surgem do nada! Consequentemente a luta por "vencer na vida", "ser alguém" se torna uma corrida maluca! Ninguém sabe o ponto de partida e tampouco onde desejamos chegar... É como uma versão "moderna" da teoria da geração espontânea. Isso realmente faz sentido?
Qual seu ídolo? Quem lhe inspira? Que valores e princípios ele possui a ponto de ser seu referencial? 
Ao deitar a cabeça ao travesseiro, o que pensa? Hoje fui uma pessoa individual e coletivamente melhor, contribuí ao mundo de alguma forma, se eu não existisse, que falta faria, ou então em quanto ganhou, deixou de ganhar ou perdeu?
Não se trata de uma teoria idiota contra o capitalismo ou qualquer outra forma de sistema econômico, trata-se de algo mais profundo, individual. Onde queremos chegar? Estamos indo na direção certa? Meus sacrifícios são válidos? E seu eu chegar onde desejo e me ver infeliz? Haverá um retorno? 
Hoje sabemos o preço de tudo, mas sabemos reconhecer o valor das coisas. Uma viagem a Dubai não sai por menos de 10 mil reais, mas quanto vale aquele almoço em família? Um Camaro custa 200 mil, mas quanto vale aquela conversa, sentados à calçada, com os amigos de infância? Muitos sabem exatamente o preço do dízimo, mas quanto vale a benção dos pais?
Alguém disse que seria fácil? É, sem dúvida, conflituoso. Espero que um dia possamos, quando partimos, podermos olhar para trás e termos orgulho do caminho que trilhamos. Nunca é tarde para recomeçar!
Como diria Vinícius de Moraes, "para que somar se a gente pode dividir?"

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Pra não dizer que não falei sobre a amizade...




















Dentre todas as coisas que considero importantes nessa nossa caminhada, sem dúvida, a amizade é uma das mais imprescindíveis.


Agradeço a Deus por conhecer muita gente, ter vários colegas e partilhar um network razoavelmente significativo. Agradeço, entretanto, muito mais por ter sido abençoado com a dádiva de ter amigos.
E diferentemente do que um dia pensei, tenho muitos amigos. Com o tempo aprendi que as situações difíceis pelas quais passei nunca afastaram meus amigos, apenas os selecionaram.

Aprendi também que cada pessoa é especial e única, consequentemente possui características intrínsecas. Saber compreender e aceitar a particularidade do outro é essencial na construção de um relacionamento salutar, verdadeiro e duradouro.

Há aqueles que constantemente estão fisicamente presentes, amigos que fazemos questão de estar ao nosso lado sempre que possível; outros, todavia, vez ou outra, simplesmente somem - às vezes por semanas, meses ou anos - , mas quando acontece o reencontro parece que nunca se distanciaram. Talvez porque mesmo que tenham seguido destinos diferentes, nunca se esqueceram das suas origens e de que um dia caminharam lado a lado; há amigos de infância, aqueles que invocam nossos nomes no diminutivo, mas que foram essenciais ao nosso crescimento; há, outrossim, amigos virtuais, pessoas que às vezes sequer conhecemos pessoalmente, apesar disso, em algum momento se fizeram presentes em nossas ocasiões mais solitárias.
Há também os ex-amigos, aqueles que nos ensinaram - amiúde de forma dolorosa - o que não deve ser feito. Não poderia me esquecer daqueles que já partiram e deixaram, além da aflição e saudade, a reflexão sobre a finitude.

Meus amigos possuem os mais diversos gêneros, cada um tem sua característica marcante. Uns gostam de falar, outros preferem ouvir; há os que sempre recorro quando me sinto necessitado, bem como aqueles que tenho prazer em poder ajudar. Alguns tem metade da minha idade e outros mais que o dobro. Todos possuem qualidades e valores que me proporcionam admiração e orgulho. Não obstante, tem sim seus defeitos e imperfeições.?

Talvez a amizade se manifeste a partir do momento em que ambos saibam reconhecer suas virtudes e falhas e, acima de tudo, respeitá-las.
A vocês, meus amigos, minha gratidão pelo companheirismo e lealdade, da mesma maneira desejo toda felicidade do mundo a vocês, pois são merecedores!


Texto escrito em março de 2015. Publicado no Jornal Imprensa do Cerrado, edição número 74.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Algumas coisas devem apenas ser sentidas, jamais entendidas.




















Sempre fui fascinado por mágica. Ainda criança, ficava encantado ao ver números que não poderiam ser explicados à luz da razão. Truques com cartas eram meus preferidos. Gostava tanto que certa vez, por volta dos meus 14 anos, resolvi aprender mais sobre ilusionismo. Matriculei-me em um curso online, o qual a cada dia liberava uma nova aula. Durante um ano aprendi a maioria dos fundamentos do universo que um dia tanto me encantou. Pratiquei bastante, ganhei experiência e “popularidade” entre meus colegas, mas perdi uma das coisas mais importantes da vida: o encanto.

Deixe-me explicar melhor. Antes de conhecer os truques e segredos que me encantavam, havia uma grande admiração pelo mágico. Ficava horas, às vezes dias, tentando entender como aquilo era possível. Sempre tive apreço por aquilo que me faz pensar.  Ver a “mágica” acontecer diante dos meus olhos me causava um estado de quase êxtase. Apesar de gostar da encenação, nunca tive admiração por nenhum ilusionista, o que me deslumbrava mesmo era o número em si. Ao descobrir, no entanto, como tudo era feito, tive – acredite – uma das maiores decepções da minha vida. Tudo não passa de truques baratos que consistem basicamente em distrair o público. Mãos ágeis facilitam o processo.

Todos inefáveis sentimentos que diversas vezes foram em mim despertados transformaram-se em desilusão. Perguntava a mim mesmo “é só isso?! Não pode ser”... Houve sem dúvida uma grande quebra de expectativa. Claro que eu sabia que “mágica” não existe fisicamente, tinha consciência de que tudo não passava de ilusão. Não imaginava, entretanto, que coisas tão simplórias eram a fonte do meu encantamento.

Cresci. Mais de dez anos se passaram. Sempre acreditei que tudo na vida tem dois lados, mas somente hoje pude ter capacidade de entender o lado bom desse desapontamento. A vida me ensinou que nem sempre devo tentar entender tudo. Algumas coisas devem ser apenas sentidas, jamais compreendidas. Isso não quer dizer que devemos fechar os olhos à razão. Trata-se apenas de saber viver cada momento, aproveitar cada etapa do presente.
Desde muito cedo sempre tive o hábito de querer ter tudo sob controle, sou uma pessoa extremamente curiosa, questionadora e que ama desafios. Essas características me fazem tomar decisões que trazem, quase sempre, bons resultados. O preço a se pagar, todavia, às vezes é alto demais. Algumas vezes, confesso, sinto que me esforço sobremaneira para conseguir algo que, em última análise, nunca quis verdadeiramente. O que me atrai não é o troféu, mas sim a busca pelo primeiro lugar. Olhar para trás e dizer “eu venci” é bom, mas olhar para frente e ter um objetivo que quase todos julgam impossível é uma sensação mágica!

Apesar de ter descoberto alguns truques de ilusionismo, ainda hoje a Mágica vive em mim. O encanto é o que me faz seguir em frente. A vontade de descobrir e entender como tudo funciona me trazem força quando penso não mais ser possível seguir em frente.  Em meu estado de encantamento, desprezo quaisquer preceitos de racionalidade.

Surge, então, meu carma. Muitas vezes para conseguir o objetivo tão almejado, tenho de ser calculista, racional e frio. Planejar cada passo, ter sempre um plano B, estar pronto a ser camaleônico. Roubo meu próprio jogo, infrinjo minhas próprias regras.  Ganho e ao mesmo tempo perco de mim mesmo. Ao mesmo tempo sou o mágico e o espectador.

Questiono-me: vale a pena? Não, não vale. Tenho aprendido, de uma maneira dura confesso, que algumas coisas devem ser apenas sentidas, jamais entendidas. E mais, alguns troféus são mais belos em minha mente, não na minha estante. Não que o objeto, coisa ou pessoa que se deseja seja menos que imagino, mas jamais serão como em meus pensamentos.

Por isso, resolvi mudar. Não quero estragar nossa história. Não depende de nós. Certas coisas contrariam as mais profundas vontades e os mais sinceros sentimentos que se possa ter. Não, não é desistir. É tentar resistir ao tempo. É fazer com que o espetáculo dure o máximo de tempo possível. Embora talvez seja ilusão, um bom mágico jamais revela seus segredos.

Quem sabe ainda temos algumas cartas na manga...


Escrito por Fernando Arataque Filho. Goiânia, 12 de janeiro de 2015.