Eu em entrevista à rádio CBN |
Sou coordenador regional do Dia do Basta, um movimento
apartidário, sem fins lucrativos que luta, dentre outras vertentes, pelo fim da
corrupção na política. Organizo manifestos, passeatas e protestos, em Goiânia,
há mais de um ano. Inúmeras vezes fui às ruas lutar por um país melhor, munido
apenas de faixas e cartazes, acompanhado de, quando muito, 50 pessoas.
Confesso que em alguns momentos pensei em desistir, às
vezes, senti-me cansado ao ouvir que “isso é o Brasil, nunca vai mudar”, “que o
sistema é muito forte”, etc. Talvez tivessem razão. Agora não mais.
Vivemos um momento ímpar em nossa história. Temos
acompanhado milhões de pessoas nas ruas, protestando por seus direitos
garantidos pela Constituição Federal de 1988.
Nesses últimos dias, no entanto, parei e me perguntei por
que somente agora o “Gigante Acordou”? Não foi difícil responder a essa
pergunta. Basta olhar à nossa volta e
perceber o quão somos diariamente humilhados pelo Governo. Muitos denominaram
essa revolta popular como “Revolta dos vinte centavos”, alusão que se refere
aos movimentos paulistas sobre o aumento da tarifa de ônibus. Mas seria injusto
e simplista explicar todo esse vômito social com meros vinte centavos. Os vinte
centavos foram apenas a gota d`água.
O povo despertou porque se cansou de ver seus parentes
morrendo na fila do SUS, assim como minha avó morreu e bem como quantas vezes,
durante o curso de Medicina, acompanhei pais chorando a morte de seus filhos
por falta de vagas em UTI´s neonatais. Idosos, hipertensos e diabéticos,
voltarem às suas casas sem o devido tratamento por falta de medicamentos
básicos. O problema é crônico e atinge as três esferas de poder. O Governo
Federal rouba muito, investe muito pouco em saúde e repassa menos ainda aos
Estados e Municípios; o Governo Estadual é negligente e omisso; o Poder
Municipal é, muitas vezes, totalmente despreparado e sem estrutura, com pessoas
que ocupam cargos públicos meramente para cumprir promessas de campanha, sem o
mínimo de preparo técnico qualificado. Já perdi as contas de quantas vezes fui
à Secretaria Estadual de Saúde e encontrei caixas e caixas de medicamentos nos
corredores do prédio à espera de que os “responsáveis” municipais os
solicitassem ou os retirassem.
O povo despertou porque se cansou de trabalhar oito horas
por dia, acordar às 5h da manhã, pegar dois, três, quatro ônibus para chegar ao
trabalho e receber no final do mês R$ 678,00, ou seja, em um ano os rendimentos
não ultrapassam R$ 8.814,00 (já contabilizado o 13º salário) ao passo que um
Senador custa, anualmente, aos cofres públicos, R$ 33 milhões, um Deputado R$
6,6 milhões. Por MINUTO, em média, cada político, pago com meu e com seu
dinheiro, custa nada mais nada menos que R$ 11.545,00, repito: por um minuto
“trabalhado”, segundo estudo feito pela organização Transparência Brasil.
O povo despertou porque se cansou de ver tanta impunidade.
Atualmente o Presidente do Senado é ninguém menos que Renan Calheiros,
condenado pelo Superior Tribunal Federal (STF). José Genuíno e João Paulo
Cunha, também condenados pelo STF, ironicamente, integram a Comissão de
Constituição e Justiça. O senhor Marcos Feliciano, racista e homofóbico, é o
Presidenta da Comissão dos Direitos Humanos. Blairo Maggi, o maior plantador de
soja do País, ganhador do prêmio “Motosserra de Ouro” (concurso organizado pelo
Greenpeace para eleger os maiores inimigos do meio ambiente) assumiu no início
do ano a Presidência da Comissão do Meio Ambiente. Parece piada, mas não é. Isso é o Brasil que
temos.
Um Brasil que tem uma das cargas tributárias mais altas do
planeta, que ocupa a 85ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a
penúltima posição no ranking da educação, tem 14 das 50 cidades mais perigosas
do mundo, que é o 72º país em investimentos na área da saúde e tem 13 milhões de brasileiros que não tem
sequer saneamento básico...
É por isso e por outros muito mais “vintes centavos” que o
brasileiro acordou e hoje vai às ruas. É por busca de uma melhor qualidade de
vida e, acima de tudo, por dignidade e respeito.
Já tivemos vitórias importantes como, por exemplo, a redução
da tarifa do transporte público e o passe livre aos estudantes da região
metropolitana de Goiânia, o arquivamento da PEC 37 (a qual retiraria o poder
investigatório do Ministério Público), o fim dos 14º e 15º salários para
congressistas, a aprovação de proposta que destina 75% dos royalties do
petróleo para educação e 25% para a saúde e mais algumas promessas de mudanças.
Não devemos, no entanto, nos deixar enganar, sobretudo pela
mídia vendida, com destaque à Rede Globo, e pensarmos que os políticos, do dia
para a noite, ficaram bons. Não! A verdade é que não estão fazendo
absolutamente nada além de suas obrigações. Na verdade, estão com medo do povo,
com medo da força de milhões de brasileiros oprimidos a gerações. Esse é o real
motivo das mudanças.
Por fim, como Coordenador e organizador de manifestos, deixo
um aviso aos políticos, sobretudo aos corruptos: Preparem-se, pois estamos
apenas começando!
Afinal,
“País rico não é país sem pobreza”. País rico é país
sem corrupção!Texto publicado no mês de junho no Jornal "Imprensa do Cerrado", edicção nº 59 de 2013.
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