"Como é vão sentar-se e escrever se você não se levantou para viver!
(Henry D. Thoreau)"


sábado, 6 de março de 2010

Um sábado à goiana!


Sábado, quase já é noite.

Voltando do curso, passei em frente a alguns dos bares mais "badalados" de Goiânia (Gyn, como costumam falar os mais "descolados").

Dava gosto de se ver toda aquela população boêmia disputando o melhor lugar - uma mesa que daria vista ao charmoso e fétido Parque Vaca Brava - alguns exibindo seus carros caros, suas mulheres lindas e seus dotes excêntricos.

É, sem dúvida, o habitat ideal para dar liberdade aos sentimentos sertanejos mais primitivos, tão característicos dos goianos. Álcool, um par de chavelhos e um ambiente elitizado, eis tudo o que um bom goiano necessita para matar o tédio dos triviais e monótonos fins de semana goianiense.

Numa luta contínua contra os elevados decibéis advindos das "gargantas de ouro" de nossa terra, tentam mostrar sua gama de erudição. Dissertam acerca das notícias exclusivas transmitidas à população por meio do insólito Batista Pereira. São observadores: sabem exatamente quantos tiros cada "presunto" levou, local e hora do ocorrido. O terremoto no Chile também enfeita a salada de informações, temperada com algumas doses de "Jack". Entre uma baforada e outra, cita-se a mais recente vergonha política nacional: Arruda. Ouve-se, meio que aos sussurros, alguém defendê-lo. Há filhos de políticos importantes à mesa, muda-se logo de assunto. Claro, discorrem sobre futebol (não poderia faltar), hoje há clássico local: Vila Nova X Atlético Goianiense. É muita emoção para um só sábado!

Ainda é cedo, "a noite é uma criança". "Garçon, desce mais uma!" E assim passa-se o tempo na cidade que, segundo o Governo, possui a melhor qualidade de vida e a maior área verde por habitante do país. Que orgulho!

Alguns "points" possuem nomes bem sugestivos ao ambiente e à localização: Taurinos, Búfalus, Kabana´s, Caballo, Montanna. Aludem a uma fazenda ou tribo? Claro que não! Isso é nossa imaculada elite urbana. Todavia, há estabelecimentos que tentam enganar seus fidedignos clientes utilizando nomes fantasiosos: Gelin, Pinguim, Maré Alta, Cantinho Frio. Um bom goiano, aquele macho mesmo, que faz questão de explorar a sonoridade do erre, sabe muito bem que nossas tardes (e noites) são literalmente bem quentes! Então, "como não tem mar, vamos para o bar (refrescar)". Reis do improviso!

O etanol começa a surtir efeito, a fala fica mais mansa, os sorrisos são mais sinceros, até as mulheres deixam de lado, por um instante, o estojo de maquiagem e o "espelinho" e arriscam relatar sua árdua e interessante semana: "Nossa, gente, vocês não acreditam o que aconteceu com a Vânia, é, a namorada do Fred, pegou ele no pulo com a Denise. Gente, ela me ligou, chorou horrores e quando eu [...]" O relato interessantíssimo é interrompido por uma ovação geral, tocou o modão da vez; a autoria é de uma dupla cujo nome deve rimar. É um momento de êxtase, todos cantam aos gritos, alguns mais ousados proferem a máxima: "Aôh mundão véi sem porteira"; outros, mais tímidos, simplesmente bebem.

E assim continua a assembleia ordinária goianiense, vai até altas horas. Prefiro poupar expor mais detalhes. Afinal, privacidade é um direito de todos. "Garçon, desce a saideira e passa a regua!" Desse modo, costuma-se fechar a noite. "Vamos, não demora!" A pressa tem explicação: a BR-153 fica longe, é um longo caminho para ir e voltar. "Rápido, amanhã temos que ir à missa matinal!"...




4 comentários:

  1. Voce se acha muito ne?

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  2. carambaa, vc escreve mtoooo bem, sou sua fã numero um! Thamires bjos

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  3. Fez Goiania parecer uma roça, mas aqui também tem civilização, meu caro! Apesar de tudo, ficou bom o texto!

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  4. Não, você não fez Goiânia parecer uma roça...pelo contrário valorizou os minimos detalhes da vida goianiense e até deu um tom jocoso,mas não vi maldade no relato, até porque é a sua cara kkkkkkkk...Ah, o que as pessoas vão fazer na Br-153 no fim da noite? na boa, essa eu não entendi.

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