"Como é vão sentar-se e escrever se você não se levantou para viver!
(Henry D. Thoreau)"


segunda-feira, 7 de julho de 2014

Linchar Zúñiga e estuprar sua filha pequena não trará Neymar de volta a essa Copa.

Pensei muito e relutei bastante para não escrever acerca do episódio da fratura do Neymar da Silva Santos Júnior durante entrada do jogador colombiano Zúñiga, ocorrida no último dia 04 durante disputa por uma vaga nas semi-finais da Copa do Mundo 2014 - a "Copa das Copas"!
Gostaria, primeiramente, deixar claro que acredito no esporte como fator fundamental na formação de valores sociais, morais e éticos. Bem como no seu papel no desenvolvimento da sociabilização dos desportistas e, sem dúvida, nos benefícios psicológicos e físicos dos seus praticantes e apoiadores.
Em segundo lugar, quereria manifestar minha torcida na recuperação do cidadão Neymar Júnior, o qual, segundo Galvão Bueno, "joga muito esse menino Neymar"!

O que me motivou a escrever essa breve e simplória reflexão foi a reação de grande parte da população brasileira após a confirmação da fratura e consequente afastamento do jogador da Copa. De início (e bem de início mesmo: em menos de três minutos foram mais de 550 mil mensagens só no twitter) houve comoção e mensagens de apoio. Até aí, tudo bem. Aliás, atitude positiva. Logo em seguida - o que me deixou triste e envergonhado - foi o fato de vários e vários brasileiros terem sido tomados por um ódio mortal contra o jogador Zúñiga e seus familiares, chegando ao ponto de alguns internautas ameaçarem sua filha, de apenas dois anos, de estupro e morte. "que tal estoramos (sic) a coluna da sua filha?" e "Menina vai ser estuprada", por exemplo. Palavras racistas também enfeitarem esse triste episódio.
Linchar Zúñiga e estuprar sua filha pequena não trará Neymar de volta a essa Copa.
Alguns podem argumentar que são só ameaças, que isso nunca se concretizará. Prefiro não arriscar, em julho de 1994, o zagueiro Andrés Escobar foi morto ao retornar a seu país após a Colômbia ser desclassificada da Copa do Mundo. Ele foi responsabilizado pela saída da equipe ainda na primeira fase por ter feito um gol contra em jogo com os Estados Unidos, donos da casa. Morto. Por causa de um gol contra.

Acima descrevi os fatos. Qualquer cidadão que tenha uma TV, acesso a internet e interesse no assunto já sabe disso. Nenhuma novidade. O que me fez refletir foi o motivo de tudo isso, por quê?
Após ler alguns artigos, pesquisar e olhar o mundo à minha volta constatei, mais uma vez, algo triste, lamentavelmente negativo:
Infelizmente, vivemos hoje em uma sociedade praticamente vazia de valores éticos e morais, de conceitos e de tradições. Sendo assim, o grande ídolo, não é mais um escritor, professor, cientista, etc.; mas sim, um jogador de futebol, um vencedor do Big Brother, uma modelo de passarela.
Sinceramente, nada contra a pessoa Neymar Silva Santos Júnior. Pelo contrário, admiro sua trajetória e sua luta. Se está onde está, fez por merecer. Tenho, todavia, certa resistência em aceitar o status de figura/símbolo/mito Neymar como ídolo. No futebol, sem dúvida, é uma pessoa de destaque. Mas nosso Brasil, país continental, rico por natureza, onde há tanta diversidade se resume a futebol? É sério isso? Seria mesmo o futebol o verdadeiro grande propulsor do patriotismo, com aceitável funcionamento apenas a cada quatro anos?

Não é que eu não goste de futebol, mas já gostei mais. Quando criança, já pensei em ser jogador profissional. Cresci, estudei e adquiri conhecimento suficiente para ter senso crítico. Hoje olho e consigo entender essa carência que sofremos. Precisamos de ídolos, pessoas que nos inspiram, isso é humano. O problema surge quando nosso conhecimento é limitado e qualquer um que a mídia exalte serve como "tapa buraco". Falta-nos educação.
Um belo exemplo do que quero dizer foi uma competição promovida pela rede de TV aberta SBT: "O maior brasileiro de TODOS os tempos". A votação foi aberta ao público brasileiro!

Listarei alguns dos nomes da lista:
72º Michel Teló e 89º Tom Jobim. Não conheço nada sobre Michel Teló, exceto uma única música que não é sequer de sua autoria com o refrão: "Nossa!/ Nossa! Assim você me mata!/Ai se eu te pego". Vamos falar um pouco de Tom Jobim? Não, não precisa! O nome Tom Jobim já fala por si próprio. O cara em toda sua vida, como músico e compositor, nos deu dezenas de verdadeiras obras primas. Ao lado de Vinícius de Moraes (que aliás, não entrou para lista!) cantou a música brasileira mais executada no mundo: "Garota de Ipanema", cujos versos "Moça do corpo dourado/Do sol de Ipanema/O seu balançado é mais que um poema/É a coisa mais linda que eu já vi passar" contrastam bem com a do 72º MAIOR brasileiro de TODOS os tempos.

50º Rogério Ceni e 66º Carlos Chagas. Sou são-paulino, admiro o trabalho do goleiro, mas me desculpe, não é possível que os brasileiros elegeram um goleiro como o 50º maior brasileiro de TODOS e Carlos Chagas como 66º! O trabalho de Carlos Chagas e sua vida dedicada à pesquisa salvou e salva milhões de seres humanos! Não precisa comentar, né?

De Brinde, mais alguns dos maiores brasileiros, segundo os brasileiros:
83º JOELMA (canta horrores!)
81ª DATENA ("Põe na Tela!")
75ª CLAUDIA LEITE (Também conhecida, agora, como Galinha Pintadinha)
54º RR SOARES (É RR e não R$!)
49º GUGU LIBERATO (Meu pintinho amarelinho!)
44º TIRIRICA (Pior que tá não fica!)
42º LUAN SANTANA (Quem é Luan Santana?)
40º XUXA (Xuxa, é sério?)
39º RODRIGO FARO ( Ahhhh, meu Deus!!!)
21º EIKE BATISTA (Alguns investidores o amam!)
20º adivinhem quem é! Claro, NEYMAR!!!

Deixo claro, nada contra nenhum dos nomes acima. No entanto, entendo que alguém para ser lembrado como MAIOR brasileiro ou como ídolo deve deixar algum legado para a humanidade. O caminho que trilha deve conter sementes que servirão de fonte de inspiração e prosperarão em bons frutos à humanidade.

Ética, moral, bons costumes, intelecto, cultura, generosidade, amor ao próximo parecem ser valores que estão em segundo planos em nossa atual sociedade. Valoriza-se demasiadamente coisas efêmeras, produtos e bens de consumo vendidos pela mídia. Quando não alcançamos esses bens (poucas vezes alcançáveis) surge a dor, o sentimento de impotência e a revolta.
Creio que tenhamos que abandonar nossa ignorância e caminhar sentindo ao verdadeiro conhecimento. E esse caminho só é possível por meio da educação, com ou sem Neymar, com ou sem o Hexa!

Fernando Arataque Filho.

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