"Como é vão sentar-se e escrever se você não se levantou para viver!
(Henry D. Thoreau)"


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Faz tanto tempo, mas parece que foi ontem.

















Seus olhos negros traziam luz; sua fé, esperança. Mentiria se dissesse que não sinto saudade. Saudade daquilo que nunca aconteceu. Por muito tempo pensei ser errado, mas ela – naturalmente – ensinou-me que não existe certo ou errado. Há o conveniente e o inconveniente. E quantos momentos inconvenientemente convenientes compartilhamos...


Arriscaria dizer que foram os melhores momentos que tive a sorte de viver. Horas se passavam como segundos! Eu levava alguns chocolates, ela os comia, mas era eu quem sentia a vida mais doce. Falávamos sobre o céu e as estrelas. Comentávamos sobre literatura e MPB. Às vezes discutíamos sobre política e religião. Futebol não, afinal torcemos pelo mesmo time.

Tudo começou como uma simples brincadeira, palavras afáveis foram sementes de um sentimento estranha e assustadoramente forte. Um afeto que nasceu calma e silenciosamente. Assim como a chuva rega uma semente, sua presença embebia meu pobre árido coração. Assim como o sol traz calma após uma tempestade, seus abraços me traziam paz. Uma paz nunca antes sentida. Uma conexão que impressiona por sua força e ternura.

Uma relação em que as palavras e o contato se fazem desnecessários. Quando duas almas se conhecem de outros tempos, todas as convenções perdem sentido. Basta um olhar, um pensamento para o coração bater, bater mais forte.

De todos os bens que ela trouxe, o que mais se destaca foi o dom de voltar a acreditar na humanidade. Enxerguei nela a pureza e bondade que acreditei por muito tempo não mais existir. Sim, ainda há seres humanos. Pessoas de bom coração. Anjos que Deus coloca na terra em forma humana. Eu tive a sorte de encontrar um.

Um anjo sem asas, de olhos negros, cabelos longos e sorriso extremamente encantador. Mãos macias, apesar das constantes lutas. Olhos que choram, mas nunca perdem a esperança e sempre enxergam um amanhã melhor. Suas negativas são adoravelmente positivas. Seu sim é tácito. O que escancarado se passa por subentendido.


A protagonista de uma história de dois personagens. Uma história que sabemos como começou, mas torço para que não tenha um final feliz. Se eu puder continuar a escrevê-la, não haverá final. A felicidade está em cada entrelinha. Que os pontos finais terminem períodos de inquietação; que a única coisa que nos separem sejam as vírgulas durante vocativos afetuosos. Que exclamações exprimam apenas vultosa alegria. E que nossas orações a dois sejam reticentes...

(1.11)

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