"Como é vão sentar-se e escrever se você não se levantou para viver!
(Henry D. Thoreau)"


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Algumas coisas devem apenas ser sentidas, jamais entendidas.




















Sempre fui fascinado por mágica. Ainda criança, ficava encantado ao ver números que não poderiam ser explicados à luz da razão. Truques com cartas eram meus preferidos. Gostava tanto que certa vez, por volta dos meus 14 anos, resolvi aprender mais sobre ilusionismo. Matriculei-me em um curso online, o qual a cada dia liberava uma nova aula. Durante um ano aprendi a maioria dos fundamentos do universo que um dia tanto me encantou. Pratiquei bastante, ganhei experiência e “popularidade” entre meus colegas, mas perdi uma das coisas mais importantes da vida: o encanto.

Deixe-me explicar melhor. Antes de conhecer os truques e segredos que me encantavam, havia uma grande admiração pelo mágico. Ficava horas, às vezes dias, tentando entender como aquilo era possível. Sempre tive apreço por aquilo que me faz pensar.  Ver a “mágica” acontecer diante dos meus olhos me causava um estado de quase êxtase. Apesar de gostar da encenação, nunca tive admiração por nenhum ilusionista, o que me deslumbrava mesmo era o número em si. Ao descobrir, no entanto, como tudo era feito, tive – acredite – uma das maiores decepções da minha vida. Tudo não passa de truques baratos que consistem basicamente em distrair o público. Mãos ágeis facilitam o processo.

Todos inefáveis sentimentos que diversas vezes foram em mim despertados transformaram-se em desilusão. Perguntava a mim mesmo “é só isso?! Não pode ser”... Houve sem dúvida uma grande quebra de expectativa. Claro que eu sabia que “mágica” não existe fisicamente, tinha consciência de que tudo não passava de ilusão. Não imaginava, entretanto, que coisas tão simplórias eram a fonte do meu encantamento.

Cresci. Mais de dez anos se passaram. Sempre acreditei que tudo na vida tem dois lados, mas somente hoje pude ter capacidade de entender o lado bom desse desapontamento. A vida me ensinou que nem sempre devo tentar entender tudo. Algumas coisas devem ser apenas sentidas, jamais compreendidas. Isso não quer dizer que devemos fechar os olhos à razão. Trata-se apenas de saber viver cada momento, aproveitar cada etapa do presente.
Desde muito cedo sempre tive o hábito de querer ter tudo sob controle, sou uma pessoa extremamente curiosa, questionadora e que ama desafios. Essas características me fazem tomar decisões que trazem, quase sempre, bons resultados. O preço a se pagar, todavia, às vezes é alto demais. Algumas vezes, confesso, sinto que me esforço sobremaneira para conseguir algo que, em última análise, nunca quis verdadeiramente. O que me atrai não é o troféu, mas sim a busca pelo primeiro lugar. Olhar para trás e dizer “eu venci” é bom, mas olhar para frente e ter um objetivo que quase todos julgam impossível é uma sensação mágica!

Apesar de ter descoberto alguns truques de ilusionismo, ainda hoje a Mágica vive em mim. O encanto é o que me faz seguir em frente. A vontade de descobrir e entender como tudo funciona me trazem força quando penso não mais ser possível seguir em frente.  Em meu estado de encantamento, desprezo quaisquer preceitos de racionalidade.

Surge, então, meu carma. Muitas vezes para conseguir o objetivo tão almejado, tenho de ser calculista, racional e frio. Planejar cada passo, ter sempre um plano B, estar pronto a ser camaleônico. Roubo meu próprio jogo, infrinjo minhas próprias regras.  Ganho e ao mesmo tempo perco de mim mesmo. Ao mesmo tempo sou o mágico e o espectador.

Questiono-me: vale a pena? Não, não vale. Tenho aprendido, de uma maneira dura confesso, que algumas coisas devem ser apenas sentidas, jamais entendidas. E mais, alguns troféus são mais belos em minha mente, não na minha estante. Não que o objeto, coisa ou pessoa que se deseja seja menos que imagino, mas jamais serão como em meus pensamentos.

Por isso, resolvi mudar. Não quero estragar nossa história. Não depende de nós. Certas coisas contrariam as mais profundas vontades e os mais sinceros sentimentos que se possa ter. Não, não é desistir. É tentar resistir ao tempo. É fazer com que o espetáculo dure o máximo de tempo possível. Embora talvez seja ilusão, um bom mágico jamais revela seus segredos.

Quem sabe ainda temos algumas cartas na manga...


Escrito por Fernando Arataque Filho. Goiânia, 12 de janeiro de 2015.





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