Sempre fui fascinado por mágica. Ainda criança, ficava
encantado ao ver números que não poderiam ser explicados à luz da razão.
Truques com cartas eram meus preferidos. Gostava tanto que certa vez, por volta
dos meus 14 anos, resolvi aprender mais sobre ilusionismo. Matriculei-me em um
curso online, o qual a cada dia liberava uma nova aula. Durante um ano aprendi a
maioria dos fundamentos do universo que um dia tanto me encantou. Pratiquei
bastante, ganhei experiência e “popularidade” entre meus colegas, mas perdi uma
das coisas mais importantes da vida: o encanto.
Deixe-me explicar melhor. Antes de conhecer os truques e
segredos que me encantavam, havia uma grande admiração pelo mágico. Ficava
horas, às vezes dias, tentando entender como aquilo era possível. Sempre tive
apreço por aquilo que me faz pensar. Ver
a “mágica” acontecer diante dos meus olhos me causava um estado de quase êxtase.
Apesar de gostar da encenação, nunca tive admiração por nenhum ilusionista, o que
me deslumbrava mesmo era o número em si. Ao descobrir, no entanto, como tudo
era feito, tive – acredite – uma das maiores decepções da minha vida. Tudo não
passa de truques baratos que consistem basicamente em distrair o público. Mãos
ágeis facilitam o processo.
Todos inefáveis sentimentos que diversas vezes foram em mim
despertados transformaram-se em desilusão. Perguntava a mim mesmo “é só isso?!
Não pode ser”... Houve sem dúvida uma grande quebra de expectativa. Claro que
eu sabia que “mágica” não existe fisicamente, tinha consciência de que tudo não
passava de ilusão. Não imaginava, entretanto, que coisas tão simplórias eram a
fonte do meu encantamento.
Cresci. Mais de dez anos se passaram. Sempre acreditei que
tudo na vida tem dois lados, mas somente hoje pude ter capacidade de entender o
lado bom desse desapontamento. A vida me ensinou que nem sempre devo tentar
entender tudo. Algumas coisas devem ser apenas sentidas, jamais compreendidas. Isso
não quer dizer que devemos fechar os olhos à razão. Trata-se apenas de saber
viver cada momento, aproveitar cada etapa do presente.
Desde muito cedo sempre tive o hábito de querer ter tudo sob
controle, sou uma pessoa extremamente curiosa, questionadora e que ama desafios.
Essas características me fazem tomar decisões que trazem, quase sempre, bons
resultados. O preço a se pagar, todavia, às vezes é alto demais. Algumas vezes,
confesso, sinto que me esforço sobremaneira para conseguir algo que, em última
análise, nunca quis verdadeiramente. O que me atrai não é o troféu, mas sim a
busca pelo primeiro lugar. Olhar para trás e dizer “eu venci” é bom, mas olhar
para frente e ter um objetivo que quase todos julgam impossível é uma sensação
mágica!
Apesar de ter descoberto alguns truques de ilusionismo,
ainda hoje a Mágica vive em mim. O encanto é o que me faz seguir em frente. A
vontade de descobrir e entender como tudo funciona me trazem força quando penso
não mais ser possível seguir em frente. Em meu estado de encantamento, desprezo
quaisquer preceitos de racionalidade.
Surge, então, meu carma. Muitas vezes para conseguir o
objetivo tão almejado, tenho de ser calculista, racional e frio. Planejar cada
passo, ter sempre um plano B, estar pronto a ser camaleônico. Roubo meu próprio
jogo, infrinjo minhas próprias regras.
Ganho e ao mesmo tempo perco de mim mesmo. Ao mesmo tempo sou o mágico e
o espectador.
Questiono-me: vale a pena? Não, não vale. Tenho aprendido,
de uma maneira dura confesso, que algumas coisas devem ser apenas sentidas,
jamais entendidas. E mais, alguns troféus são mais belos em minha mente, não na
minha estante. Não que o objeto, coisa ou pessoa que se deseja seja menos que
imagino, mas jamais serão como em meus pensamentos.
Por isso, resolvi mudar. Não quero estragar nossa história.
Não depende de nós. Certas coisas contrariam as mais profundas vontades e os
mais sinceros sentimentos que se possa ter. Não, não é desistir. É tentar
resistir ao tempo. É fazer com que o espetáculo dure o máximo de tempo
possível. Embora talvez seja ilusão, um bom mágico jamais revela seus segredos.
Quem sabe ainda temos algumas cartas na manga...
Escrito por Fernando Arataque Filho. Goiânia, 12 de janeiro de 2015.
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