Às vezes quando chego em casa, minha solião diz "boa noite", logo em seguida retiro todas as máscaras que usei durante o dia, sinto-me consideravelmente mais leve, acendo um cigarro, logo apago. Tenho fome, mas nem sempre como. A solidão me chama, finjo não ouvi-la, ela grita, então pego o telefone e passo algumas mensagens, antes, claro, recoloco algumas máscaras. Ligo a TV, quase sempre no mesmo horário, as notícias são as mesmas. A Campanhinha toca, é o tédio chegando, mal me cumprimenta, entra sem pedir licença e acomoda-se ao lado da solidão... às vezes conversamos durante horas; não gastamos, sequer, uma palavra. Olho no relógio, quase sempre na mesma hora, a consciência pesa, fico triste, o telefone toca - não é quem eu espero, fico tristão. Um triste consciente, pois sei que quem eu espero não irá me ligar. É um auto-engano, preciso dele para continuar a respirar. O corpo está cansado, a mente também. Resolvo tomar um banho, pego três toalhas, uso somente duas. Não gosto de roupas, é só mais um tipo comtemporâneo de máscara. O tédio cansa-se, diz "até amanhã" e vai embora. Acendo outro cigarro, observo a fumaça, a invejo, sai livre, sem rumo, logo desaparece... nunca mais a verei. Resolvo ir até a sacada, procuro estrelas, não vejo, o céu está poluído; e a lua, cadê? Ah, já ia me esquecendo que um dia eu a te dei. Olho a minha volta e nada vejo além de prédios vazios, escuros, somem no céu negro. Tenho vontade de sair por aí sem rumo, não posso!, a cidade é violenta. Lembro-me de alguns poucos amigos, sinto saudade da ignorância. Relembro o passado e sorrio, uma lágrima escorre. A última fumaça se despede... estou novamente só! Um amigo que já se foi me vem à cabeça, me pergunto "onde estará"? Sinto o gosto cheiroso da lágrima não mais solitária, as horas passam, já é quase hora de recolocar as máscaras, já estão velhas, cansadas, preciso trocá-las. A solidão me diz algo baixinho, sussura de novo, mas eu não consigo ouvir, então a chamo, ela vem sorrateiramente, enxuga minha lágrima, me faz um afago, diz que não é pra eu ficar assim, me abraça forte e, chorando, me diz "não chore, estou aqui, NUNCA VOU TE ABANDONAR". Nossa solidão nos consola. A solidão me olha nos meus olhos, elogia meu sorriso triste, me convida pra deitar, eu aceito. Durmo com três travesseiros, uso apenas dois... o sono não vem, deve estar ocupado. A solidão começa a contar histórias do passado, nos perdemos em meio a gargalhadas contidas... ela me conta sobre o futuro, fala bastante dele, tenho vontade de conhecê-lo, mas ao mesmo tempo tenho medo, ele parece ser tão incerto. Dizem que ele vem e vai embora e nem notamos. Algo bate à porta, é o sono, um visitante importante, quase nunca aparece. A luz ainda permanece acesa, olho para o teto, conto estrelas; olho para o lado, vejo grades, levanto e vou até o banheiro, escovo os dentes, olho ao espelho e nada vejo... nada... Então apago a luz... Vou me deitar, abraço a solidão, ela me aperta bem forte, muito forte... acho que, finalmente, dormimos, a noite é eterna... não há sonhos... nunca existiram!
Goiânia, 03/06/2008 01h38m
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