"Como é vão sentar-se e escrever se você não se levantou para viver!
(Henry D. Thoreau)"


segunda-feira, 28 de junho de 2010

Mais uma história de amor

Era uma vez, numa cidadezinha distante e pacata, havia um garoto chamado João. Ele era popular e insólito. João não era daquelas pessoas que gostavam de andar por caminhos previamente determinados, ele trilhou conforme suas vontades cada passo que deu.

Na infância era destacadamente o aluno número um. João não era fisicamente forte, era magrelo, carregava cabelos pretos e lisos soltos ao vento, assim como sua sorte. Sua esperteza era ímpar, era sempre o primeiro a entender as piadas dos adultos. Todos o achavam "precoce".

E talvez precoce seja a palavra que melhor defina João. Nosso protagonista deu seu primeiro beijo por volta dos 10 anos de idade, na escadaria da igreja. Foi no dia em que havia saído de casa para ir à novena levar um frango assado, feito por sua mãe e embrulhado num papel brilhante e barulhento, que seria leiloado durante a festa. Esse foi o primeiro encontro de João com o amor.

Ficara encantado com tal experiência. Chegou a ficar dias pensando e revivendo aquele momento antes de dormir e ao acordar. O ambiente não foi dos melhores, nem direito a uma música o casal teve. Apesar de João ter esquecido o nome da menina, ele sente ainda hoje o gosto puro daqueles lábios morenos sujos de batom, a textura da pele daquele rosto pueril e a fragrância doce do perfume de menina. João se lembra perfeitamente da fisionomia da guria de fala mansa, assim como lembra da surra que levou do namorado dela no dia seguinte.

João aprendera a lição mais importante de sua vida: tudo tem um preço. Apesar de não ser rico, ele sempre quis as coisas mais caras. Sempre apostou alto, era ousado de nascença. João tinha sorte, principalmente com mulheres. Na adolescência não sabe quantos amores teve; mas como já mencionado, ele era diferente. Não foi só mais um rapaz que hoje seria popularmente classificado como um "galinha". Não. Aquele garoto tinha algo de especial que encantava as meninas. Alguns dizem que era seu silêncio, sua aparente seriedade. Talvez seus enigmas fossem convidativos a um jogo de descobertas. João sempre soube jogar muito bem. O tempo foi passando e ele aos poucos foi ganhando experiência. Aperfeiçoando suas táticas de batalha, conhecendo novos territórios, ultrapassando limites inimagináveis. João não sabia o que era perder no amor. Ele amou t-o-d-a-s suas amantes. Amou ao seu modo e à sua maneira, porém amou. O problema de João era que ele se apaixonava facilmente. Não era necessário a obra toda, uma parte sequer já era suficiente para fazer o coração joanino disparar. Apesar de míope, João era extremanente detalhista, uma vez se apaixonou pelas linhas da mão de uma mulher. Outra vez pelo sorriso. Olhos, nuca, seios, cabelos, nariz... tudo o encantava e o jogo começava: ele se aproximava, estudava a adversária, armava olhares, atacava com elogios. Normalmente isso bastava, mas quando não era o suficiente, João pedia reforços de músicas, cartas, promessas afáveis. Mas o silêncio era sua maior arma, quando estava quase derrotado, ficava calado num silêncio que ecoava. Era justamente nesse ponto que o jogo virava, a adversária de João estranhava a atitude, ficava confusa e ingenuamente baixava a guarda. Era o erro fatal. Nesse momento o guerreiro já conhecedor de toda a mulher, adentrava o pobre coração, descobria seus desejos e vontades... A batalha estava ganha, João, entretanto, antes de partir, sempre deixava uma semente de saudade, só depois partia em busca de novas conquistas. Mas ele sabia o preço da vitória. No fundo, ele deseja perder. Cada vez que saia vitorioso, crescia mais seu vazio, extendia a busca por mais e mais. Era uma droga poderoza e João um pobre viciado. Amou tantas, roubou de cada uma um pedaço daqueles pobres corações. João sempre quis preencher o vazio que o corroia internamente. Aos olhos alheios, ele nunca amou ninguém, mas ele sabe que amou todas porque não foi capaz de amar somente uma.

E a história de João continua depois. Agora o narrador precisa dormir, amanhã tem aula.

4 comentários:

  1. Fernando, adorei! Continue mesmo, porque eu quero ler!

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  2. Também estou ansiosa pela continuação!

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  3. Eu gostei muito da historia de Joao, quero ler a continuaçao...........

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  4. Ótima narraçao Fernando! Apesar de não precisar dela para saber parte do que aconteceu com João...rsrs
    Saudds! Abraço,amigo. KLFR♪

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